segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Nota do MCA

Nós, o povo, ou seja, estudantes,  operários, professores, trabalhadoras domésticas e mais uma infinidade de formas de trabalho, possuímos diversas necessidades específicas, próprias do trabalho que desempenhamos ou de nossa territorialidade onde habitamos. Possuímos, ao mesmo tempo, incontáveis carências e dificuldades que são comuns a todos nós que vivemos do próprio trabalho. Uma necessidade comum que possuímos é a de locomoção no espaço urbano da cidade. Todos os dias somos obrigados a nos deslocar de nossas casas ao ambiente de trabalho ou estudo. É importante frisar que somos obrigados, pois sem nos locomover, não conseguiriamos a sobrevivencia.
Na Grande Vitória, os espaços de deslocamento são curtos, se comparados a outras metrópoles. A geografia impôs a Vitória ser uma cidade compacta, e canal de passagem para todos os demais municípios do entorno, o que causa graves problemas de transito, muitos automóveis queimando muito combustível fóssil e gerando um enorme desgaste ambiental.
Na nossa região, o transporte é explorado por um conjunto de empresas que cobram uma passagem para você poder sair de casa e ir para qualquer outro lugar. Essas empresas gerenciam o monopólio do deslocamento de todos os trabalhadores que não possuem automóvel (ou que não possuem condições de utilizarem do automóvel com constância) e, além de exigir que cada um pague uma tarifa compulsória (que é cobrada como um imposto diário além do que já pagamos mensalmente), recebem ainda quase 70 milhões de reais do estado do ES todo ano em forma de subsídio, ou seja, um montante enorme de dinheiro sem explicação.
A título de comparação com o ônibus que foi incendiado no dia 11 de janeiro durante um protesto em que os estudantes buscavam formas de se defenderem do BME, poderiamos dizer que, se um ônibus custa cerca de 200 mil reais, então todos os anos o estado do espírito santo dá de presente, e sem exigir nada em troca, mais de 300 ônibus de graça para as empresas ligadas ao sistema transcol em forma de subsídio, que beira os 70 milhões conforme citamos.
Se por meio da extrema benevolência que nos é exigída, isso só não fosse já motivo suficiente para protestarmos da maneira mais veemente e enfática possível, ainda temos outros problemas:

1) Vivemos em uma sociedade onde a maioria das pessoas ainda sobrevive com um salário mínimo ou menos por mês, cerca de 500 reais. Um funcionário formal médio, como um bancário, por exemplo, não chega a 2.000 reais por mês de salário. Um professor com uma cadeira em um município como Cariacica, recebe cerca de 900 reais por mês.

2) Uma pessoa que recebe vale transporte para se deslocar tem descontado de seu salário uma porcentagem, as vezes maior que 6%, mas considerando quem não recebe o VALE, e que deve deslocar-se uma vez por dia útil para trabalhar, se não fazer mais nada durante o resto do tempo, vai gastar mais de 100 reais por mês com seu próprio deslocamento independente de quanto recebe por mês. Se tiver filhos em idade escolar, sobe para mais outros quase 100 de passe escolar. Se a pessoa utiliza ônibus para se locomover de dois postos diferentes e duas vezes nos finais de semana, ela irá gastar mais que 180 reais por mês. Em uma cidade onde podemos cruzar de Laranjeiras à Cariacica percorrendo menos de 30 km (passando pelo centro de Vitória). Em um país onde uma grande massa de trabalhadores possui uma renda familiar inferior a 1000 reais, é notório o preço absurdo da tarifa do TRANSCOL.

Mas se ainda assim alguém puder contestar o mérito do povo em se manifestar contra isso tudo, ainda poderíamos acrescentar os péssimos serviços, a lotação, os bancos diminuídos para poderem se caber de pé mais passageiros transportados como gado, a falta de abrigo de chuva nos pontos, a demora e atrasos nos horários divulgados, a falta de segurança do passageiro que não dispõe de cintos de segurança e mais uma infinidade de reclamações.

Dessa forma, o Movimento Contra os Aumentos (MCA), surge agregando estudantes e trabalhadores em suas assembléias e manifestações, protesta denunciando esse modelo corrupto de transporte. Somos um movimento independente, sem compromissos com governos, organizações políticas e poderes econômicos. Surgimos da necessidade de contestação e não podemos parar obedecendo a comandos externos, só poderemos parar com o cumprimento de nossas reivindicações.

Temos uma análise de que o modelo de transporte é ineficiente pois opera objetivando elevar a lucratividade acumulada de seus parceiros, com isso inviabiliza-se para o povo. Reivindicamos, portanto, mudanças estruturais na lógica do transporte público. Além de exigências estruturais, o MCA possui reivindicações pontuais, como a redução imediata do preço da tarifa dos ônibus para toda a população. O MCA reivindica também e desafia o governo do Espírito Santo a organizar uma conferência oficial e deliberativa sobre mobilidade urbana e transporte coletivo. Uma conferência em que nós, o povo, possamos eleger delegados representantes em seus bairros para participar com direito a voz e voto popular, como método a democracia direta e participativa com o povo escolhendo o que quer para este Estado que seus impostos sustentam. Reivindicamos também ampliação da disponibilidade de rotas e carros para, assim, reduzir a lotação e os atrasos. Reinvidicamos o serviço de todas as linhas do sistema transcol oferecidos também nos horários da madrugada. Reinvidicamos o direito de protestar pacificamente sem que estudantes e trabalhadores possam ser presos ou feridos pelo Batalhão de Missões Especiais.

Considerando tudo isso, o MCA julga ter um compromisso com o povo, de não se calar nessa era de letargia e silêncio de um povo mudo, acomodado com a TV a cores e acostumado a apanhar em silêncio, ser roubado em silêncio, sofrer em silêncio e chorar em silêncio. Um povo que desaprendeu a se organizar, que sente receio em se juntar com quem está na mesma fila sofrendo do mesmo sofrimento. O MCA só não representa as pessoas que lucram e se beneficiam do sofrimento e dos problemas de uma classe que a anos sofre da falta de respeito, direitos e voz. Por isso não deixaremos as ruas vazias enquanto nossos direitos não virem, nosso respeito não for conquistado e nossa voz ouvida!

Comissão de comunicação do Movimento Contra os Aumentos - MCA.

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