quarta-feira, 27 de julho de 2011

Artigo da Heloísa Helena!

Direito às Ciclovias

Heloísa Helena*
          Quem vivencia as cidades brasileiras - vivendo no sentido intenso da palavra, sem se acomodar apenas com sua vidinha pessoal – conhece a importância das Bicicletas como modalidade de transporte urbano, tanto do ponto de vista da sustentabilidade ambiental como diante da precariedade dos transportes coletivos e da necessidade de redução no orçamento doméstico das extorsivas tarifas. Milhões de trabalhadores pobres brasileiros saem das suas casas nas madrugadas e alvoradas, com bicicletas velhas, sem equipamentos de proteção pessoal, levando uma pequena quantidade de alimento para todo o dia de trabalho exaustivo, sem técnicas de alongamento e submetidos a grandes distâncias que ultrapassam os limites físicos, temerosos da violência cotidiana e angustiados com a possibilidade – tantas vezes já visualizada – de acidentes, mutilações e mortes no trânsito!
          O debate sobre esse tema e todas as alternativas propostas sobre o Sistema Cicloviário - como mecanismo de apropriação democrática dos espaços de circulação urbana – infelizmente não sensibiliza a muitos, pois não envolve um setor poderoso na rede de propinas e crimes contra a administração pública - como o transporte coletivo e a construção de rodovias – e nem envolve setores sociais de grande poderio político e econômico. Embora o Código de Trânsito já disponibilize em vários artigos a estruturação dos direitos e deveres desses usuários e não faltem propostas concretas a serem viabilizadas pelo poder público na garantia de acesso seguro aos principais pontos das cidades.
           Pois bem... a bicicleta foi inventada em 1790 (de madeira e impulsionada com os pés, embora 4 séculos antes deste feito o Leonardo da Vinci já a tinha desenhado com pedais e correntes!), em 1898 veio ao Brasil apenas para consumo e diversão dos riquíssimos Barões do Café e apenas em 1948 começou a ser fabricada no país e se tornou popular. A “magrela” ou “bike” como é carinhosamente chamada por muitos apaixonados em nosso país – e largamente utilizada como meio eficiente de locomoção especialmente na China e Holanda – pode ser uma excelente ferramenta de mobilidade e acessibilidade eficaz e agregadora. Daí a importância de implementar os projetos de circulação (ciclovias, ciclofaixas, circulação partilhada), de sinalização (vertical, horizontal, semafórica), de estacionamento (bicicletários, paraciclos), de campanhas educativas (para ciclistas, usuários de outros veículos e pedestres) e da definição da área de abrangência (com a definição de limites extremos - interesse, necessidade, limite físico) e integração com outros meios de transporte equipados para tal. Além de alternativas viáveis como linhas de crédito para população de baixa renda na aquisição de bicicletas e equipamentos de proteção pessoal.
          Em muitas cidades de Alagoas e aqui em Maceió - nos bairros do Tabuleiro, Benedito Bentes, Clima Bom, Jacintinho, Trapiche, Complexo Lagunar, etc – milhares de moradores de áreas vulneráveis socialmente, trabalhadores na informalidade - buscando desesperadamente “bico” para sustentar suas famílias com dignidade e resistindo com bravura ao mundo das facilidades e violência do tráfico de drogas – ou na construção civil e em outras áreas da economia local – às vezes até escondendo suas bicicletas para não perderem o vale-transporte, se deslocam todos os dias usando bicicletas. Exatamente por respeito profundo a esses trabalhadores, estamos em importante etapa de pactuação  – em Coordenação do MP/AL (Dr. Max e Dra. Denise) – com organizações não-governamentais (Associação dos Ciclistas e Bicicletada), Sindicatos de Trabalhadores e Patronal (Construção Civil) e todas as Instituições Públicas diretamente responsáveis pelo setor. Estamos confiantes que conseguiremos garantir a implementação do Plano de Mobilidade Urbana com prioridade a formas de circulação coletivas, aos pedestres (especialmente com deficiência ou restrição de mobilidade) e aos ciclistas dentro do Sistema Viário.
          Claro que muitos dirão que tudo isso é impossível e vão se contentar com seus carrões nos “pegas” de vadios filhinhos de papai ou sendo um ridículo machão brutamontes no trânsito... ou no caso dos políticos ladrões e suas súcias nada disso importa pois as propinas das ciclovias são pequenas se comparadas com as rodovias e confiam eles que os trabalhadores pobres continuarão facilmente manipulados para que eles possam continuar a reinar. Mas, “pra variar”, muitos de nós continuaremos lutando, apresentando emendas ao Orçamento para garantia das ciclovias, fiscalizando e exigindo que sejam encaminhados os Projetos (prerrogativa exclusiva do Executivo) de Mobilidade... Além do óbvio em continuar de lupa na mão para evitar a canalhice política no processo de licitação do transporte coletivo e garantir as cláusulas sociais de proteção aos motoristas e cobradores dos ônibus. Ufa! Como dizia a grande e maravilhosa alagoana Nise da Silveira...”Para navegar contra a corrente são necessárias condições raras: espírito de aventura, coragem, perseverança e paixão!”

Heloísa Helena é vereadora do PSOL em Maceió.
Twitter: @_heloisa_helena

domingo, 24 de julho de 2011

A Comunidade Camilo Torres está passando por um grave ataque neste exato momento.


A Comunidade Camilo Torres está passando por um grave ataque neste exato momento.


em belo horizonte
Ontem (terça-feira pela manhã) um homem armado ameaçou de morte e atirou em crianças, moradores e lideranças da comunidade. Depois de ter cometido diversos outros delitos, como seqüestro de uma van escolar, o acusado foi encaminhado para delegacia.
Esta atitude, aparentemente isolada, vem se transformando em uma ofensiva violenta contra toda a comunidade e suas lideranças.
Na noite de ontem, diversos homens encapuzados passaram de casa em casa ameaçando os moradores e depois se reuniram na praça central da comunidade, local geralmente reservado para as assembléias de moradores.
Hoje a ofensiva continuou, com homens armados em plena luz do dia aterrorizando os moradores e afirmando que as lideranças devem ficar fora da ocupação, sob pena de serem assassinadas.

Reportagem da mídia oficial sobre despejo na Serra

Duas pessoas presas durante reintegração de posse de área da Vale na Serra

Elas foram presas após atearem fogo na vegetação próxima ao terreno, ocupado por cerca de 400 pessoas no último domingo

23/07/2011 - 11h16 - Atualizado em 23/07/2011 - 11h16
Letícia Cardoso - gazeta online
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Atualizado às 13h10

foto: Nestor Müller
Desocupação de terreno na Serra
Ação da polícia durante a desocupação do terreno na Serra


A Polícia Militar e a Justiça cumpriram na manhã deste sábado (23) uma ordem judicial de reintegração de posse de uma área de 72 hectares, com cerca de 3 km de extensão, localizada em Bicanga, na Serra. O terreno que, de acordo com a Justiça, pertence à Vale, foi ocupado por aproximadamente 400 pessoas no último domingo (17).

Algumas chegaram a montar barracas e demarcar terrenos com fitas. A ordem de reintegração de posse foi expedida na última segunda-feira (18) pela 4ª Vara Cível da Serra.

Leia mais notícias do Minuto a Minuto

Por volta das 07h30 deste sábado (23), 90 policiais do Batalhão de Missões Especiais (BME) e da cavalaria da Polícia Militar chegaram ao local para acompanhar o trabalho dos oficiais de justiça. Os ocupantes saíram sem resistência.

 Apenas um princípio de confusão foi formado depois que dois homens foram detidos pela polícia por atearem fogo na mata que margeia a área ocupada. Os detidos foram levados para o DPJ da Serra.

A população se revoltou com a ação da polícia, mas os ânimos foram contidos após representantes dos Direitos Humanos e da Pastoral do Menor interferirem no movimento. Os ocupantes alegam que os terrenos foram doados por uma pessoa que diz ser uma das proprietárias da área.

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Confrontos entre BME e estudantes durante protesto no Centro de Vitória
Operação com 400 homens do BME em Aracruz retira moradores de área para construção de casas populares

O eletricista Wayder Magalhães contou que até documentos foram mostrados a eles indicando que a área particular era da pessoa que havia feito a doação. Entretanto, a decisão judicial reconhece apenas a Vale como proprietária do terreno.

"E mais uma vez quem sofre com essa situação somos nós. Uma área deste tamanho, sem utilização nenhuma. Eu sou casado, tenho dois filhos e moro de aluguel. Quando apareceu essa história de doação eu não pensei duas vezes. No domingo eu já estava aqui com a minha família levantando a barraca. Agora vou voltar para casa onde morava e continuar pagando aluguel", relatou Wayder.

Outra que confirma a versão da doação é a dona de casa Priscila Freitas, de 19 anos. Ela contou que no domingo a história se espalhou rápido em Novo Horizonte, na Serra, e todos correram para área já cercando a parte que queriam. Ela, o marido e os três filhos também foram.

"Quem vive de bico, tendo que sustentar uma família com três filhos e ainda pagando aluguel não pensa duas vezes. No domingo mesmo nós viemos para o terreno e levantamos a barraca. Agora que fomos retirados daqui vou tentar voltar para nossa antiga casa. Caso contrário teremos que ir para o abrigo", disse Priscila.

O secretário de Defesa Social da Serra, Dirceu Melo, contou que o diálogo com as pessoas que ocuparam a área começou ainda no domingo e se prolongou até a madrugada deste sábado. A prefeitura, de acordo com o secretário, disponibilizou carros para levarem os pertences das pessoas e encaminhá-las a abrigos do município. Entretanto, segundo ele, nenhum ocupante quis ir para abrigo.

"A prefeitura está buscando verba junto ao Governo Federal para desenvolver projetos voltados para a área de habitação. Nós vamos continuar em diálogo com esses moradores para que situações como essa não se repitam. É ruim para todas as partes", afirmou o secretário.

Alguns ocupantes, inconformados com a desocupação do terreno, prometeram retornar ao local. No entanto, segundo o comandante do 6º Batalhão da Polícia Militar, José Dirceu, os policiais continuarão na área e quem tentar invadir será preso. Um representante da Vale que acompanhou a ação destacou ainda que a empresa colocará 30 seguranças particulares distribuídos em toda extensão da área para garantir a segurança do local.

sábado, 23 de julho de 2011


WEB CHARGES

Não É Conto de Fadas
Neste trabalho inaugural do projeto Web Charge – projeto aprovado nos editais 2011 do Programa Rede Cultura Jovem –, o Estúdio Cosmonauta presta homenagem a todos os segmentos da sociedade civil organizada que encampam a Campanha Estadual Contra a Violência e o Extermínio de Jovens (ES).
No último dia 30 de Junho (2011) ocorreu na Assembleia Legislativa do Espírito Santo uma sessão especial que tratou dessa questão e tanto eu quanto Laíssa Gamaro – ambos do Estúdio Cosmonauta – estivemos presentes.
Foram apresentados dados da pesquisa “Homicídio juvenil: de quem estamos falando?”, que traça um perfil da juventude vitimada no Espírito Santo e mostra que de janeiro a maio deste ano, 391 jovens foram mortos (homicídio), segundo dados da Secretaria de Estado da Segurança. Aponta também que desse número 77% eram jovens negros.
Mais de 120 pessoas estiveram presentes.
Lembramos também que já estão ocorrendo as reuniões de articulação para a construção da 4ª Marcha Estadual Contra o Extermínio da Juventude Negra. Essa ação é coordenada pelo Forúm Estadual da Juventude Negra do Espírito Santo (FEJUNES) e tem como objetivo alertar a sociedade capixaba a respeito do extermínio físico e cultural sofrido pelo segmento.
Sua realização se dá no dia 20 de novembro, data em que se resgata e se reafirma a Consciência Negra.
A charge “Espelho, espelho meu” faz parte de uma série maior que criamos recentemente, intitulada “Não É Conto de Fadas”. Essa série irá propor novas leituras – e quem sabe, ressignificações – para os clássicos e tão populares contos de fadas, enraizados em nossa cultura a partir de leituras feitas principalmente pela indústria cultural, via produtos midiáticos, como desenhos animados, histórias em quadrinhos, livros... vide as clássicas (e polêmicas!) versões da Walt Disney sobre os contos dos irmãos Grimm.
Estamos muito felizes com o espaço concedido pelos diversos sites parceiros que toparam veicular nossos trabalhos. Esperamos manter ao longo do projeto uma boa qualidade tanto em termos de ideia e abordagem, quanto em soluções gráficas.
Grande abraço a todos e até semana que vem.






PLANO DIRETOR MUNICIPAL DE VILA VELHA

­­­Novo Plano Diretor Municipal de Vila Velha (PDM) foi alterado sob a orientação de interesses privados e sem ampla discussão com a sociedade.  O PDM em questão prevê pesados impactos ambientais para o município.
No último dia 14 de julho de 2011, 15 vereadores contra 2 aprovaram as alterações no PDM de Vila Velha que prevê a criação de um superportona região de Interlagos e a delimitação de sete distritos industriais na região rural do município. Áreas como a Reserva Natural de Jacarenema, lagoas e outras áreas verdes deverão ceder espaço aos novos empreendimentos.
O arquiteto responsável pela construção do novo PDM, Antônio Challub, quando questionado a respeito dos interesses da construção do novo Plano, deixou bem claro que ele foi financiado pela iniciativa privada e, mais especificamente, por empresários e donos de terrasdas localidades agora transformadas em distritos industriais.
O município de Vila Velha já é conhecido nacionalmente como uma cidade entrecortada por valões a céu aberto e profundas desigualdades sociais– qual é o turista que desce a terceira ponte e não experimenta o cartão postal do município entrando pelas narinas e agredindo o olfato? Diferentemente de um movimento que deveria se orientar para reverter o quadro instalado revitalizando o município e distribuindo renda, o que está sendo proposto é a implementação de um modelo desenvolvimentista que aprofunda sistematicamente a degradação ambiental da região e não se propõe resolver as questões sociais.
A Região Cinco de Vila Velha – que compreende os bairros de Terra Vermelha, Interlagos, Ponta da Fruta e Barra do Jucu, dentre outros – será a área mais afetada. Ocorre que está região é historicamente a menos assistida por politicas de infraestrutura e amparo social do município. Portanto, mudanças desse porte no PDM sem um replanejamento urbano para essas áreas – instalação de redes de saneamento, mais escolas e hospitais – é, no mínimo, um profundo desrespeito para com as populações locais, além de uma seríssima agressão ao patrimônio natural da cidade.
E isso tudo foi votado sem ampla convocação e mobilização da sociedade para o debate, desmontando o que se compreende por audiência pública, estritamente necessária neste caso. Além disso, o Plano Diretor Municipal aprovado está sujeito a ações de rechaço por parte do Ministério Público Estadual (MPES) que poderá entrar com ações de impedimento, já que por lei alterações desse porte só podem ser feitas em intervalos de cinco anos, sendo que PDM anterior foi feito em 2008.
Curtam a síntese que a ilustradora e chargista Laíssa Gamaro encontrou para esta questão.

Lulla e DIllma despejam famílias e jogam crianças nas ruas!

MTST OCUPA MINISTÉRIO DAS CIDADES CONTRA AS POLÍTICAS DE DESPEJO AO REDOR DO BRASIL!

Caros companheiros,

O MTST está já há 3 dias ocupando o Ministério das Cidades, em Brasília, com 4 companheiros acorrentados. Esta ação foi resultado de despejos e descumprimento de acordos pelo Governo Federal e pelo Governo do DF.

Enviamos um manifesto de apoio à ocupação do Ministério das Cidades, a ser assinado pelo máximo de movimentos, entidades sindicais, igrejas e figuras públicas. 

Pedimos aos companheiros que assinem pela sua entidade e enviem para as entidades que tem mais proximidade. 

Se possível, retornem o quanto antes com as assinaturas para este e-mail. Pretendemos fechar no máximo segunda-feira.

 
Um abraço,
Guilherme (MTST)

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Sabado, MTL estará na atividade em PAUL !

A cidade cria e recria seus espaços em cada movimento, inventa seus ritmos, traça seus percursos. Mas ao mesmo tempo em que através das práticas urbanas se criam e consolidam espaços, deixam restos, lugares que são resultados de diferentes momentos ao longo da história, mas que também são reflexos do abandono e do tempo.

A malha da cidade possui muito desses entres, estruturas que ocupam e transformam um território, tem sua memó
ria, compõe uma paisagem, mas que no cotidiano de uma cidade se configuram como frestas, interstícios que são como esculturas, onde a matéria prima consiste no que sobrou até o momento em que foi vivenciada, e daí em diante passam a ser moldadas, deformadas por um acaso/descaso.

A idéia da intervenção nesse sábado é reunir amigos, catraeiros e pessoas da cidade para fazer um churrasco no antigo aquaviário de Paul. É um local abandonado e com grande carga de significado para Grande Vitória. Durante o churrasco será armada uma exposição com material fotográfico que conte a história daquele lugar e do seu contexto político/espacial.

O local é lindo, tem umas das vistas mais interessantes do Centro, da dinâmica do porto, da baía, e o acesso é pela catraia, terão alguns catraieiros que cuidarão do nosso transporte por 1, 75. Tipo, quase de graça, o ponto da Catraia fica no Centro, próximo ao porto, mas detalhes no mapa.

Levem uns trocadinhos pra cerveja.


Data: Sábado dia 23/07 13:30 às 16:30
Loca: Antigo Terminal auqviário de Paul
Criado por: Samira Proêza - estudante de Arquitetura e Urbanismo da UFES

Prefeitura de Aracruz e órgãos ambientais estão no bolso da FIBRIA!

Uma questão que envolve dinheiro e meio ambiente, ameaça pescadores e população de diversas localidades em Aracruz.

Hoje dia 19 de julho de 2011, nossa equipe da ONG Amigos da Barra do Riacho foi até os rios riacho e gimuna para acompanhar se a dragagem realmente havia sido paralisada a obra quem vem impactando toda região e identificamos que a dragagem continua .

A onde realmente deveria ser dragado, para beneficiar os pescadores e agricultores, nem de perto se passa a draga, o assoreamento e visível nas portas das comportas impedindo o fluxo de água no seu percurso. Até uma barraca foi montada para ser acompanhada as atividades dia e noite no local, o interessante é que dois homens bem vestidos chegaram ao local e tudo indica que seriam da empresa mas quando tentamos nos aproximarmos os mesmo literalmente "fugiram", sem deixar que chegássemos  perto para qualquer tipo de questionamento.

Veja o que definiu a justiça:

Decisão do Juiz da 4ª Vara Federal Cível do Espírito Santo, Dr.Francisco de Assis Basílio de Moraes, publicada em 14/07, condenou a Aracruz Celulose (Fibria SA) e o Município de Aracruz/ES “... em obrigação solidária de fazer estudos e um relatório de impacto ambiental (EIA/RIMA), a fim de apresentarem ao órgão gestor ambiental do Estado do ES e ao IBAMA, relativo ao projeto de transposição das águas do Rio Doce para o Rio Riacho e para o abastecimento da fabrica de celulose. O EIA/RIMA devem contemplar soluções para os problemas advindos com a operação do empreendimento em questão. O EIA/RIMA deve ser confeccionado em um prazo de 06 (seis) meses a contar da intimação deste decisum sob pena de multa cominatória diária e solidária aplicada aos mencionados REUS de R$ 10.000,00 (dez mil reais) ate o montante de R$ 100.000.000,00 (cem milhões de reais)...” , dispõe o Julgado. Ainda, conforme a Douta Decisão, o Juiz restou por: ”...Condenar a sociedade empresaria Aracruz Celulose S/A (atual FIBRIA S/A) a arcar com todos os custos, sem exceção, relativos a confecção do EIA/RIMA do item (a), inclusive com a contratação de entidade especializada para elaborar tais Estudos e Relatório; c) Condenar o Município de Aracruz e a sociedade empresaria Aracruz Celulose S/A (atual FIBRIA S/A) na obrigação de fazer, de modo continuo, a canalização das águas do Rio Doce para os Sistemas de Abastecimento Publico dos Distritos de Vila do Riacho e Barra do Riacho, sob pena de multa cominatória diária e solidária aplicada aos mencionados REUS de R$ 10.000,00 (dez mil reais) ate o montante de R$ 100.000.000,00 (cem milhoes de reais)... ”, determina.
Em minucioso Relatório , o Juiz da Causa, decidiu ainda: “ ...Condenar o Estado do Espírito Santo, através da SEAMA ou entidade equivalente, em obrigação de fazer, a fim de que o mesmo receba os estudos e o relatório de impacto ambiental elaborados pelos REUS o Município de Aracruz e a sociedade empresaria Aracruz Celulose S/A (atual FIBRIA S/A), realizando a devida analise, com a oitiva do IBAMA; e) Condenar o INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS E RENOVAVEIS - IBAMA em obrigação de fazer a fim de que o mesmo participe e analise o EIA/RIMA em questão (item a desta parte dispositiva), bem como observe os procedimentos administrativos para decisão quanto ao EIA, incluindo a manutenção do licenciamento ambiental da transposição das águas do Rio Doce ...”, dispõe.
Segundo ainda determina, “...O EIA/RIMA a ser elaborado pelos REUS o Município de Aracruz e a sociedade empresaria Aracruz Celulose S/A (atual FIBRIA S/A) devera calcular o valor pecuniário para solucionar o impacto ambiental e os problemas decorrentes da aprovação das licenças ambientais, inclusive com soluções estimadas de questões futuras, em desconformidade com a legislação ambiental, relativas ao projeto de transposição de águas do rio Doce e limpeza dos antigos canais do DNOS para aumento da disponibilidade hídrica nas várzeas do rio Riacho...” , conclui o Juiz.

domingo, 17 de julho de 2011

MTL, na luta, retoma para o povo área que a Vale do Rio Doce havia invadido!

Nesse domingo o MTL inicia um processo de liberação de uma área que a empresa de capital internacional Vale do Rio Doce, havia invadido. A área pertencia a um grupo de herdeiros que não foram idenizados até hoje pela empresa. Prova de que o capital, para consolidar seus interesses econômicos, é hipócrita o suficiente para ser capaz de jogar na lata do lixo um de seus valores mais fundamentais, da defesa da posse da propriedade privada.

A área está localizada nas proximidades do bairro "Cidade Continental" na Serra e, inicialmente, abrigará 200 famílias.

Entretanto, a polícia militar do ES tem nos ameaçado. Sabemos que a policia é uma coorporação com longo histórico de ligações (comprovadas até mesmo pela imprensa oficial burguesa) com o crime organizado e empresas capitalistas em defesa de seus interesses, passando por cima até mesmo da constituição brasileira e do código penal.

Nós seguiremos na luta em defesa do povo e do direito a moradia digna para a classe trabalhadora!

domingo, 10 de julho de 2011

EXTERMÍNIO DA JUVENTUDE CAPIXABA!!!

O ES o único Estado onde a principal causa de óbitos juvenis em 2008, nas idades separadas entre 15 e 24 anos, foi homicídios; em Alagoas (AL), essa situação bárbara não aconteceu na idade de 15 anos. Isso não se verificou em nenhum outro Estado do Sudeste para as 10 idades consideradas.

No ES taxa é de 120 mortes a cada 100 mil jovens.

A de Santa Catarina (SC), que dobrou entre 1998 e 2008, é quase cinco vezes menor (25,4). Já a do ES continuou elevada desde 1998 - e superou a de El Salvador, a maior do mundo: 105,6. Covas e caixões enterram também políticas vigentes para a juventude.

Em 2008, esta região metropolitana teve a maior taxa de homicídios de jovens em comparação com as nove maiores do Brasil: 188,4 por 100 mil jovens. A taxa da região metropolitana de São Paulo, no mesmo ano e faixa etária, é seis vezes menor.


BARRA DO RIACHO

Ajuda com alimentação foi suspensa pela prefeitura de Aracruz

*Valdinei Tavares - Membro da Coordenação Estadual do MTL

Depois de esgotado o prazo final para o fornecimento de alimentação pela prefeitura para os desalojados do loteamento Nova Esperança, no distrito de Barra do Riacho, em Aracruz (norte do Estado), algumas famílias permanecem na quadra de esportes do distrito, mas sem receber alimentação. As famílias já deveriam estar alojadas em moradias pagas com aluguel social, mas a demora da prefeitura em firmar os contratos com os proprietários fez com que algumas famílias permanecessem na quadra.
O local continua sendo ocupado por famílias que não tiveram para onde ir e a alimentação fornecida pela prefeitura do município foi cortada na última quinta-feira (30) quando, de acordo com o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) celebrado entre prefeitura, moradores e Defensoria Pública do Estado, as famílias já deveriam ter sido cadastradas e alojadas em casas pagas com o aluguel social. No entanto, a prefeitura de Aracruz não firmou contratos com donos de imóveis e as famílias permanecem na quadra de esportes, durante o inverno rigoroso e com a alimentação suspensa.
Os moradores denunciaram a situação nessa segunda-feira (4) à Defensoria Pública e ao Ministério Público Estadual e assistentes sociais foram mandadas pela prefeitura à quadra para iniciar o cadastro das famílias, mas chegaram no momento em que muitos moradores estavam trabalhando e o local estava vazio. As pessoas que estavam na quadra pediram que as assistentes aguardassem, já que elas queriam cadastrar somente os presentes no momento, e o cadastro começou a ser feito.
Os moradores denunciaram também que a prefeitura estaria fazendo vistorias nas casas que devem ser alugadas, mas após isso nenhum contato é feito com os proprietários para firmar os contratos. Isso vem protelando ainda mais a permanência dos desalojados na quadra de esportes.
O temor é que mais pessoas adoeçam devido ao frio que faz no local, que é aberto e com laterais cobertas com lonas para aplacar o vento. No dia 19 de junho último, Sebastião Moura, de 68 anos, morreu em Vitória por complicações pulmonares decorrentes de uma pneumonia, provavelmente adquirida durante a permanência na quadra de esportes.

sábado, 9 de julho de 2011

Carta do FEJUNES


Carta aberta de repúdio ao machismo e à violência contra mulheres

As mulheres e os homens integrantes do Fórum da Juventude Negra do Espírito Santo manifestam publicamente seu repúdio às atitudes machistas e violentas praticadas por um de seus membros contra uma de nossas companheiras, Karina de Moura Oliveira. 

Manifestamos ainda nosso apoio às posturas da companheira que, além da denúncia política, fez todas as denúncias criminais cabíveis ao caso – violência física, moral e psicológica que se enquadra na Lei 11.340/2006 (Lei Maria da Penha).

Considerando o direito de ser ouvido de todo e qualquer acusado, abrimos espaço no Fórum para que o companheiro pudesse responder às acusações, bem como fazer suas colocações a cerca do fato. Em reunião, ocorrida no dia 5 de fevereiro, o companheiro confirmou todo o relato da vítima e se comprometeu a assumir as responsabilidades de seus atos nos processos criminais. A questão foi debatida e o Coletivo de Mulheres Aqualtune apresentou as propostas de encaminhamento, que foram: a) Ele fica suspenso de falar publicamente em nome do Fórum por compreendermos que é uma incoerência para o Fejunes, visto que lutamos contra todo e qualquer tipo de violência e não podemos permitir que um agressor fale em nosso nome sobre respeito aos direitos humanos e demais bandeiras que defendemos;  b) Uma comissão do Fejunes fica responsável por acompanhar o tratamento psicoterapêutico que ele se comprometeu a fazer, a fim de contribuir no processo de superação de suas limitações machistas, práticas agressivas e contradições internas; c) O Fejunes inclui em seu planejamento de 2011 uma formação política cujo tema será “Violência contra a mulher”, na perspectiva de aprofundarmos nossa compreensão sobre o tema e sensibilizar os fejunianos para a pauta, a fim de que determinados equívocos, tanto teóricos quanto práticos, possam ser superados individual e coletivamente; d) O Coletivo de Mulheres Aqualtune fica responsável por rediscutir o tema em seus encontros ordinários, no sentido de fortalecer as participantes deste coletivo para que cada uma delas tenha condições de perceber a agressão, por mais sutil que ela possa parecer, com o intuito de não tolerar nenhum tipo de violência.

Durante o debate, o integrante em questão, não concordando com os encaminhamentos, se retirou da reunião comunicando também sua saída deste Fórum. Na ocasião, lamentamos mais uma postura equivocada do companheiro quando este preferiu se retirar do movimento, esquivando-se das deliberações do Fejunes. 

Ressaltamos que, durante esses cinco meses de intensos debates sobre a questão, todas as deliberações deste Fórum tiveram como pano de fundo a preocupação em não expulsar o companheiro, mas sim trabalhar para que ele compreenda a amplitude de seus erros, que se constituem crimes; reconheça e supere seu machismo. Acreditamos que mantê-lo no movimento, participando dos debates sobre violência contra a mulher e feminismo, seria uma forma de contribuir no processo de autocrítica do companheiro, bem como impulsionar uma mudança efetiva de suas posturas. 

Baseados nessa leitura, recebemos o pedido apresentado pelo companheiro de reintegração ao movimento e nos colocamos abertos ao diálogo. Entretanto, uma série de equívocos continuaram sendo cometidos pelo companheiro, que vem tratando a questão com deboche numa tentativa de escamotear seus erros e desviar o foco do debate. Em reuniões posteriores, ele passou a negar os fatos e vem se referindo publicamente à vítima no sentido de ridicularizá-la e desqualificar suas posturas, como se toda a violência denunciada pela companheira não passasse de calúnia e vingança. Além disso, vem reincidindo em práticas agressivas, coagindo e pressionando as demais companheiras deste Fórum, inclusive as testemunhas; desrespeitando a medida protetiva; além de questionar e criticar as posturas, sobretudo, do Coletivo de Mulheres, colocando em xeque, inclusive, o apoio dado às denúncias criminais feitas pela companheira, alegando que “a Justiça burguesa branca não é espaço para resolução de problemas pessoais como este”. Acreditamos que essas posturas equivocadas (dentre outras) demonstram o quanto o companheiro ainda não se dispôs a refletir seriamente sobre o fato.

Considerando tudo isso, o Coletivo de Mulheres Aqualtune/ES e o Fórum da Juventude Negra do Espírito Santo, após longos e desgastantes debates, torna público seu posicionamento, enegrecendo que o pedido de reintegração ao Fejunes foi negado e que o companheiro foi efetivamente desligado deste Fórum. 

Sabemos que as relações pessoais entre mulheres e homens são a materialização do patriarcado, uma estrutura historicamente desigual de opressão, que é, inclusive, anterior ao racismo e ao próprio capitalismo. Sabemos também que questionar e redesenhar essas relações sociais, construídas historicamente para permanecerem no âmbito privado, nos exige uma reflexão constante e sobretudo uma práxis diferenciada. Nesse sentido, se a nossa luta é por uma sociedade livre de toda e qualquer exploração, bem como livre de todas as formas de opressão, compreendemos que começar a construir, cotidianamente, dentro de nossas organizações, as novas formas de relações sociais, é um passo essencial para superar estes problemas. Assim, compreendemos que são as situações concretas e, fundamentalmente, os nossos posicionamentos frente a elas que podem fazer avançar a luta contra essa forma de opressão. 

Esperamos que o companheiro reveja suas atitudes a partir de uma intensa reflexão de suas posturas machistas e violentas, e compreenda que a autocrítica é o primeiro passo necessário para superação de tais práticas. 

Finalizamos reafirmando nosso compromisso de lutar contra toda e qualquer forma de extermínio, violência e opressão.
Por um mundo sem racismo, sem machismo, sem violência, sem opressões!

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Entrevista com filha de Che Guevara!

Filha de Che teme que reformas afetem consciência social em Cuba

ELEONORA DE LUCENA
ENVIADA ESPECIAL AO RIO
Ela se declara apenas uma militante da base do Partido Comunista Cubano, mas carrega o sobrenome de um mito da esquerda. Aos 50 anos, a pediatra Aleida Guevara se ocupa em cuidar da memória do pai e faz uma defesa inflamada do modelo da ilha.
Nesta entrevista, ela expressa seu temor pessoal de que as reformas em curso na ilha que permitiram a venda de imóveis e carros afetem a consciência social da população, pois podem inflar o individualismo. No Brasil para dar palestras, ela fala de política e da herança de Che Guevara.
Rafael Andrade-28.06.11/Folhapress
Aos 50 anos, a pediatra Aleida Guevara se ocupa em cuidar da memória do pai e faz uma defesa inflamada do modelo da ilha de Cuba
Aos 50 anos, a pediatra Aleida Guevara se ocupa em cuidar da memória do pai e faz uma defesa inflamada de Cuba
Folha - Como vê o Brasil hoje?
Aleida Guevara - Para quem vem de fora é muito fácil analisar a situação. Para quem vive a realidade cotidiana é mais difícil. Por isso não é bom perguntar a quem vem de fora sobre a realidade do teu país, porque não tem base sólida para falar. Como trabalho com o MST há tanto tempo, uma das coisas que sempre tenho visto é a necessidade de repartir a terra, fazer uma reforma agrária profunda. Para que este país possa solucionar de verdade seus problemas de sua gente mais simples, do campo. Isso eu posso dizer. Mas, como o Brasil vai, só os brasileiros sabem. Vim participar da conferência de agroecologia em Londrina.
E como vão as coisas em Cuba?
Estamos em um momento de buscar solução a problemas reais que temos tido durante muito tempo. Há problemas atuais que o país vive por causa da crise econômica, que atinge todos os países do mundo. Estamos discutindo os problemas com todo o povo, analisando-os nos locais de trabalho, nos bairros. O congresso do partido analisou tudo o que resultou dessas reuniões populares e se chegou a um consenso de que vamos fazer algumas mudanças na economia familiar. Resolver um problema de família, de pessoas que estão sem emprego neste momento porque o Estado não pode seguir sustentando pessoas que trabalham sem produzir. Quando perdemos o campo socialista europeu, Cuba sofreu uma crise brutal e o Estado amparou todo mundo durante todo esse tempo. Agora a situação da economia interna melhorou. Portanto há possibilidades reais para que essas pessoas possam trabalhar independentemente. Não queremos desamparar os que não estejam trabalhando para o Estado. Por isso é que vem essa possibilidade de trabalho individual. Porque nós, pela Constituição, teríamos que analisar quais são os itens da Constituição atual que se chocariam com essas mudanças. Por isso toda essa análise popular, profunda. Se é necessário mudar algum item da Constituição, que o povo saiba o que se está fazendo e porquê. E o plebiscito que se tenha que fazer será faz mais rápido e mais fácil.
O que teria que mudar na Constituição?
Foi acordado na Constituição que Cuba é uma sociedade socialista. Dentro dessa sociedade socialista há normas, regras. Quando se diz agora que há pessoas que vão trabalhar por conta própria, pode ser alugar sua casa, o que não existia. Essas pessoas que agora estão trabalhando por conta própria, se quiserem outras pessoas para trabalhar, que seja pago um salário justo, por lei. Por exemplo: se quiseres alugar um quarto da tua casa e empregaste alguém para fazer a limpeza. Antes esta pessoa não estava protegida por nenhuma lei. Agora, com as mudanças, essa pessoa estará protegida também pelas leis do Estado cubano. Essas leis precisam ser implementadas na Constituição.
O último congresso do partido abriu possibilidade da propriedade privada de imóveis e carros...
Digamos que não é propriedade privada. Eu, por exemplo, se paguei por um carro, ele é meu. O problema é que eu não tinha direito de vendê-lo. Agora tenho. O que mudou é que é permitido ao cidadão que é dono de um carro vendê-lo legalmente. É sua propriedade, é seu direito. Como em relação a casas. Se uma casa é legalmente tua, tu podes vendê-la.
Mas isso é reconhecer a propriedade privada.
Dentro do que já existia, na propriedade individual. Que podes chamar de privada, se quiseres. É tua. O problema é legalizar essa propriedade para que você possa usá-la para o que quiseres.
A sra. não acha que isso se conflita com o princípio socialista?
Não. Isso não tem nenhum tipo de problema com os princípios socialistas. A questão não está em vender a tua casa ou o teu carro ou trocá-lo. Isso me parece que é muito bom que possamos fazê-lo livremente, sem nenhum tipo de trava. A questão está em que agora há trabalhadores por conta própria. Esses trabalhadores vão buscar o seu benefício pessoal. O meu temor pessoal como cidadã a pé eu não tenho nada a ver com a direção do governo cubano; sou uma médica cubana meu temor é que as pessoas que comecem a trabalhar para si mesmas percam um pouco a questão social, a consciência social. Vivendo numa sociedade socialista, nós trabalhamos para um povo. Quando tu começas a trabalhar para o teu bolso, para o teu bem estar pessoal, temos o risco de perder essa conexão social que mantivemos por toda a vida. Essa é a minha preocupação pessoal. O Estado socialista e segue sendo socialista porque não há privatização nos grandes meios de produção. Isso não se tocou e não se vai tocar. O povo cubano segue sendo dono de tudo o que se produz no país. Podes ser dono do que tu fazes em tua casa, um restaurante, um salão de beleza, serviços. Mas os grandes meios de produção, tudo está com o Estado, que, portanto, é do povo. Nesse sentido não há nenhum tipo de mudança.
As reformas foram feitas para tirar do Estado o peso de pessoas que..
Exatamente. De pessoas que vão ficar sem trabalho pelo Estado, porque o Estado não pode seguir sustentando essa situação. Temos feito melhorias econômicas. Essas pessoas ficam livres de trabalhar para o Estado e ter o seu próprio trabalho. E o Estado sai dessa tensão de manter alguém que não estava produzindo.
O seu temor é que essa reforma, que pode ser lida como mais privatizante, afete a consciência social?
O homem pensa segundo vive. Essa é a preocupação, simplesmente. Se você está vivendo somente interessado em melhorar a tua casa, em melhorar a quantidade de dinheiro que tem no bolso, em melhorar a vestimenta, você se esquece que a escola infantil da esquina, onde seus filhos e netos estudam, precisa de uma mão de pintura. Você será capaz de deixar um pouco desse dinheiro para doar à escola? Se você é capaz de fazê-lo, eu calo a boca e sou feliz. Essa é a minha preocupação: que você perca essa perspectiva, que não se preocupe com a perspectiva de comunidade social, que é o que nós somos e pelo que seguimos vivendo.
Por que é difícil fazer uma renovação nas lideranças cubanas? Por que não há jovens lideranças?
Nosso ministro de educação superior tem 51 anos, não é tão velho.
Mas na liderança maior...
Vai se renovando. As pessoas que vão chegando, vão provando como são, como atuam, qual a capacidade. Isso está havendo com vários dirigentes. O chanceler de Cuba tem 50 anos. Para chanceler, é relativamente jovem. Vamos vendo como essa nova geração, a minha geração, vai ocupando uma série de lugares de direção no país. É uma questão que vai se fazendo pouco a pouco. A questão mais importante é do conhecimento de como elegemos a nossa gente. Nenhuma imprensa do mundo fala das eleições em Cuba.
Como a sra. responde aos que dizem que Cuba é uma ditadura, não há liberdade de imprensa?
É simplesmente uma falta de conhecimento total da realidade cubana. Nós temos eleições populares, muito mais democráticas do que qualquer outro país. Porque é o povo que elege diretamente os seus candidatos. Desde a base. Não há organizações políticas que digam: é esse, esse. É o povo quem diz. Uma reunião de vizinhos diz: fulano e fulano. E explicam porque propõem. Cinquenta por cento mais um da assembleia reunida têm que dar a aprovação. Se a pessoa é aprovada, ninguém pode derrubar essa aprovação. É uma decisão do povo. Então esse passa a ser candidato.
Mas o partido é único.
Mas o partido não tem nada que ver com as eleições. O partido é um partido dirigente, diretor da conduta social nessa sociedade, nada mais. Não tem nada que ver com as eleições. As eleições são de baixo, do povo. Nós elegemos o candidato ao município. As eleições ocorrem a cada dois anos e meio. A cada cinco anos essa assembleia municipal elege uma comissão eleitoral dentro de seus membros e começam a receber propostas das organizações de massa do país. Por exemplo: os camponeses têm uma organização de massas. Se nesse município há camponeses, eles têm direito a propor candidatos para a província e para a nação. Se há faculdades ou universidades, a organização de estudantes universitários tem direito a propor candidaturas a essa assembleia municipal. Assim, se há um hospital, o sindicato da saúde tem direito a fazê-lo; se há uma unidade militar, os militares têm direito há fazê-lo. Todas as organizações sociais que existem nesse território têm direito a propor candidatos à província e à nação.
A comissão eleitoral da assembleia municipal reúne toda essa informação e faz uma eleição. Faz uma cédula para a província e para a nação. Essa candidatura se discute no pleno da assembleia municipal. E a assembleia municipal tem que aprová-la em 100%. Se não a aprova, a comissão eleitoral tem que recomeçar o seu trabalho. Até que o município aceite essas candidaturas. Quando forem aceitas essas candidaturas, se apresenta a votação para o povo. Província e nação. O que aconteceu com a nação? Se tu deixas que o povo cubano diga realmente o que querem desde baixo para a nação, os históricos seriam sempre indicados. Todo mundo vai propor Fidel, Raúl, Ramiro Valdez. Gente é conhecida, em quem se tem confiança e que se sabe que vão seguir o caminho da revolução.
Mas não é possível porque é preciso dar espaço a novas gerações. Por isso é que os dirigentes históricos somente poderiam ser propostos pelo seu município. Por exemplo, Ramiro Valdez somente pode ser proposto pelo município de Artemísia. Santiago de Cuba é o único município que pode propor Raúl e Fidel. Desde o início tivemos que fazer assim porque as pessoas tinham a tendência de indicar sempre Fidel e Raul.
Nossa assembleia tem 38% de mulheres. Uma percentagem importante de jovens. Está bastante equilibrada entre trabalhadores do campo e da cidade. Depois vamos às urnas e elegemos. Quando a assembleia está eleita pelo povo, se reúne e elege, dentro do seu seio, o presidente, secretário, vice-presidente, o conselho de Estado, os ministros. A assembleia nacional de Cuba e o Conselho de Estado tem que ser eleitos diretamente pelo povo.
Então não há um problema de renovação?
O problema está em que o povo cubano conhece a sua gente. Se tu conheces a tua gente, querem que sigam dirigindo. Se fizeram bem até agora, por que queres mudar? Ao contrário. O que as pessoas realmente temem é que poderíamos eleger um jovem neste momento que não tenha as possibilidades intelectuais que tem hoje, por exemplo, Raúl. Estamos seguros com ele. Nos sentimos seguros com ele. Por isso se elege. Quando não o tivermos, estaremos obrigados a buscar outras possibilidades. Por isso é bom ter ministros mais jovens para ver como se comportam. O povo pode dizer se esse agrada ou não. E pode pensar desde agora: esse ministro está trabalhando muito bem, é uma pessoa direita, é austero --isso observamos muito. Se são ministros que têm contato com o povo. Que as pessoas confiem em relação à sua atitude em relação à vida.
Como justificar a questão da oposição, dos presos políticos, as damas de branco?
Meu Deus! O conceito de preso político é presos por suas ideias. Em Cuba não existem esses presos. Em Cuba existem presos por ações contra o povo. Ações de delito. Colocar, por exemplo, veneno na água de uma escola infantil é terrorismo. Esse está preso. Incendiar a telefonia de Cuba. Isso o que é? É uma ação terrorista.
Então não existem presos políticos; existem terroristas presos?
Existem terroristas. Existem os que fazem isso do ponto de vista econômico também. Porque vivemos com o bloqueio dos EUA. Nos últimos anos, eles têm aplicado a lei do bloqueio de outras formas mais sofisticadas.
Como?
A lei Helms-Burton fala que, se você tem uma empresa e quer ir a Cuba negociar, alugar uma casa, um edifício para implantar a empresa, você pode ser penalizado se esse edifício onde você colocou a sua empresa pertenceu a alguém que vive hoje nos EUA. Pela lei Helms-Burton os EUA podem penalizar essa empresa por U$ 5 milhões, 10 milhões por ocupar um lugar que pertenceu a um norte-americano. Imagina! Em Cuba as melhores residências pertenceram a essa gente dos EUA. Os 20 mil melhores hectares pertenciam aos EUA.
Com quem vamos negociar? Há empresas que se atreveram a fazer essas coisas. Há mercenários pagos diretamente pelos EUA e países europeus que se dedicam a dar esse tipo de informação ao FBI. Isso prejudica muito o nosso país. Muita s empresas, panamenhas, por exemplo, tiveram que sair porque foram penalizadas por isso. O povo cubano se prejudicou. Essas pessoas quando foram detectadas e foram presas. Por fazer dano ao nosso povo. A maioria já esta praticamente livre. Por causa de um trabalho que alguns ministros espanhóis fizeram para libertar essas pessoas.
O embargo não mudou nada com Obama?
O bloqueio. A palavra embargo em espanhol significa que os EUA embargam nosso direito comercial com eles. Esse é um direito deles. Não protestamos contra isso. Protestamos quando os EUA tem o propósito de que nenhum outro pais do mundo comercialize livremente com Cuba. Isso é o bloqueio, fechar um país. Isso é o que estão fazendo conosco toda a vida. Com Obama, acreditávamos que, por ser o primeiro presidente negro na história desse país que é tão racista, esse homem teria outras perspectivas. Nos equivocamos. Obama responde aos interesses da grande indústria dos EUA. Não fez nenhuma mudança importante.
Ele entrou na presidência prometendo que a base militar de Guantánamo seria fechada. Isso não ocorreu até agora. Seguem tendo presos ilegais em nosso território nacional. Essa base é roubada de Cuba. Ela foi negociada em 1902. E, depois, em 1904. A partir de 1904, este contrato entre o governo de Cuba na época e os EUA nunca mais foi tocado. Por leis internacionais, um contrato que tenha mais de cem anos e que não seja tocado, morre por morte natural. São as leis internacionais desse mundo. Apesar disso, os EUA não aceitam. Faz mais de cem anos que esse contrato já faleceu. E mantém ilegalmente esse nosso território ocupado.
E Cuba nada pode fazer?
Cuba protestou em todos os meios, nas Nações Unidas, em todo o tipo de organização do mundo. Não há resposta. Quando os EUA começaram a usar a base como um cárcere ilegal, Cuba protestou em todos os níveis, em todas as organizações internacionais. Não houve resposta. Que podemos fazer? Tirá-los de lá, com muito prazer o faríamos. Mas seria a desculpa que teriam para nos atacar.
Volto a perguntar sobre as damas de branco. Há quem diga que a primavera árabe pode chegar à Cuba. A sra. teme isso?
As damas de branco são para mim uma vergonha como mulher. O que elas pedem? Que se deixem livres assassinos, terroristas, pessoas que atacaram a economia de seu próprio povo, mercenários que se venderam aos interesses dos EUA e da Europa? E que uma mulher não enxergue que seus próprios filhos estão numa sociedade livre, uma sociedade que cuida das crianças, do momento em que nascem até os últimos anos de sua vida. Uma sociedade em que a educação é totalmente gratuita. Não importa se és dama de branco, de preto ou de verde. Como não são capazes de valorizar essas coisas? Que posso esperar de uma pessoa assim? Se uma pessoa tem princípios e luta pelos teus ideais, eu a respeito, mesmo que não sejam os meus [ideais]. Mas quando essa pessoa recebe dinheiro para fazer essas ações? Quando recebe dinheiro e vive desse dinheiro para fazer esse tipo de coisa contra o teu próprio povo? Não vou respeitar essa pessoa. Não posso respeitar um mercenário.
É o caso das damas de branco?
É o caso de todas essas senhoras. O que estão defendendo? A quem estão defendendo? Pessoas que colocaram veneno em água de crianças, que tentam incendiar uma central telefônica e que contratam pequenos delinquentes no país para tentar desestabilizá-lo? Por muito humana que eu seja, por muito que eu queira, não posso aceitar. Porque não estão defendendo ninguém, nada que seja justo. Se elas fizessem de coração, se não recebessem dinheiro para fazer tudo isso, eu poderia tê-las em conta. Porque são mulheres, podem amar a seus maridos. Pode ser um filho da puta. Se está apaixonada por ele, tem que se respeitar. Mas que nasça de ti, não que recebas dinheiro para fazer todo o show que fazem. Não posso apoiá-las. É isso que acontece com as damas de branco. O povo as rechaça. As rechaça ao ponto de que a policia nacional teve que protegê-las. É uma reação do povo, que sabe o que estão fazendo essas senhoras. Nós temos um nível cultural importante na população.
Mundo árabe é muito diferente de nós. São culturas, situações diferentes. A revolução cubana é uma revolução de base, do povo. O exército cubano é um exército do povo. Sou uma médica e estou defendendo tranquilamente o que é meu, de meus filhos e netos. Isso me dá direito de fazê-lo. No mundo árabe não houve revoluções desde as bases. Não há revoluções populares realmente. Houve movimentos importantes, por exemplo, no Egito, mas se perderam faz muitos anos. A revolução de Nasser se perdeu. A situação em que vivem esses povos é às vezes extrema. Eu respeito o mundo árabe, gostaria de conhecer muito mais. Mas é muito diferente do meu. E os problemas internos sérios somente seus povos podem resolver. Quem sou eu para dizer aos libaneses, por exemplo, como devem se comportar? Os únicos que podem determinar como podem ser dirigidos são os libaneses.
Mas há uma ebulição no mundo árabe agora, não?
Desgraçadamente vejo muita manipulação, de grupos dentro do mundo árabe que estavam incomodados por falta de poder. Utilizaram a necessidade de um povo de buscar soluções para o que sofrendo para chegar ao poder também. Tomara que os povos logrem os seus objetivos. Até agora o que estamos vendo é uma manipulação de situações internas para provocar alguns distúrbios. Tiraram um tirano no Egito. Buscam um mais suave, que convenha melhor aos interesses externos que existem no Egito. Se o poder é tomado e se atrevem a nacionalizar todas as riquezas do Egito e fazer isso em benefício do seu povo, aleluia, perfeito. Até agora não vemos isso. Temos que esperar para ver o que vai acontecer. Nenhum país tem o direito de interferir nos problemas internos do outro.
Como acontece na Líbia.
Nenhum. Muito menos a Otan, estimulada principalmente pela Espanha, pois o petróleo líbio é o petróleo que Espanha utiliza. Esse é o objetivo dessa guerra. Há que ter respeito aos povos. Eu pergunto, quando na história da humanidade um país do chamado primeiro mundo pediu ajuda a um exército do terceiro mundo para resolver seus problemas internos? Nunca. Quem dá o direito a um país do primeiro mundo intervir em um país? Quem deu esse direito? O Plano Colômbia, por exemplo. Colômbia é produtora de coca, mas coca ancestral. Esse povo não consome a coca como os Estados unidos consumem a cocaína. É diferente. Se os Estados Unidos e a Europa não consumissem essa cocaína, não teríamos o problema com a coca na Colômbia. Por que se mantém o negócio? Porque há muitos interesses nos EUA e Europa que provocam esse tipo de situação. Porque não resolvem o seu problema. Por que vêm meter sete bases militares na Colômbia?
A vitória da esquerda no Peru muda algo na América Latina?
Estamos vivendo a Alba, a alternativa bolivariana, com Venezuela, Cuba, Equador, Bolívia, Nicarágua e duas ilhas pequenas do caribe. Temos intercâmbios culturais e econômicos, respeitando idiossincrasias e soberanias. Mas sendo cada vez mais companheiros na luta pelo bem estar do povo. Esperamos que Peru se una. Mercosul é outra instituição. Seria fantástico se Brasil e Argentina se unissem à Alba, pois isso significaria que não há retrocesso para a AL. Se os gigantes latino-americanos se unissem num processo emancipador da América, não haverá o que nos detenha.
Como está Fidel?
Bastante bem. Quando saí de Cuba (em 23/06), estava bem, tinha ido visitar Chávez.
E como está Chávez?
Não o vi pessoalmente, mas o que sei é que está bastante bem, muito recuperado. Gosto muito dele. É um grande amigo.
E o câncer?
Que eu saiba, não há câncer. O problema é que se tem ou não tem, não é importante. O importante é que tenha a capacidade para seguir dirigindo e resolvendo os problemas de seu povo. Qualquer ser humano pode ter qualquer tipo de enfermidade. Por ser um presidente não está isento de ter enfermidades. Se ele agüenta, resiste e se sente em condições para seguir adiante...
Não seria melhor anunciar publicamente o que ele tem?
Mas se não tem, porque vai anunciar?
Mas ele está há muito tempo em Cuba.
E é uma operação de joelho, necessita de tempo para recuperar-se. Tem o peso do corpo...
Mas não foi um abscesso?
Há muitas versões.
Por isso que pergunto se não seria melhor divulgar o oficial.
O problema das coisas oficiais...O porta-voz do governo bolivariano deu uma explicação pública, mas todo mundo repete o que diz Miami. De que adianta dar explicações a toda hora se um porta-voz oficial diz algo, mas as pessoas dizem outra. Que objetivo tem que eu diga algo se não vais me acreditar?
Cuba é hoje dependente da Venezuela como foi no passado em relação à URSS?
Não. São coisas diferentes. Venezuela é um país latino-americano como nós, a mesma cultura, maneira de ser. Estamos numa mesma organização latino-americana. Também tivemos muito respeito com a URSS.
Mas a dependência econômica? Cuba é dependente hoje da Venezuela?
Não. Temos intercâmbios importantes, sobretudo no petróleo. Estamos buscando energias alternativas, como a solar. Não há uma dependência. Poderíamos estar hoje perfeitamente bem sem a Venezuela. Claro, há algumas coisas que seriam prejudicadas. É melhor ter um amigo por perto do que um inimigo. Bolívia, apesar de mais longe, também.
E o Brasil?
Com o Brasil temos muito boas elações diplomáticas. Há muitas empresas brasileiras em Cuba. Empresas brasileiras que comercializam com Cuba muito bem.
Quais?
Melhor não mencioná-las.
Como é a sua vida? Como é conviver com a herança de Che?
Tenho 50 anos, duas filhas. A maior tem 22 anos, acabou de se graduar em economia em Havana. A segunda tem 21 anos e está terminando seu terceiro ano de medicina. É o tesouro maior que tenho como ser humano. Trabalho muito com crianças, sou pediatra. Trabalho também numa escola para crianças com necessidades especiais em Havana. Que também me fazem muito feliz, me fazem melhor ser humano todos os dias. Pois são crianças muito especiais, com uma grande capacidade para amar. Trabalho também em casas de amparo. Dou consultas como médica, trabalho no centro de estudo Che Guevara, levando a imagem de Che. Meu salário é como medica, especialista de primeiro grau.
Você mora em Havana?
Sim. Minha filha menor vive comigo; a maior vive com sua avó paterna, pois seu pai faleceu há alguns anos. Tenho também meus irmãos.
O que eles fazem?
Camilo, 49, trabalha no centro de estudos Che Guevara. Célia é veterinária especialista em mamíferos marinhos e trabalha no aquário nacional de Cuba. Ernesto é advogado, mas gosta de trabalhar com motos. É mais mecânico do que advogado. Trabalha por sua conta. E mamãe, que é o centro. É diretora do centro de estudo Che Guevara.
Há machismo em Cuba?
Sim, há algo. Superamos muito com a revolução. Fizemos um giro de 180 graus. Não é possível arrancar tudo de uma vez. É lento. É possível fazer mudanças econômicas e sociais num estalar de dedos, mas mudanças mentais levam tempo. A geração das minhas filhas é muito mais forte, Sabem quem são e para onde vão. Também os homens têm hoje um conceito muito mais aberto. Temos avançado muito. A dupla jornada de trabalho da mulher vai diminuindo.
Como lidar com o mito Che?
Mito, não. Quando falas, por exemplo, de Cristo, é muito distante do ser humano, não sabes se existiu ou não. Che não pode converter-se num mito. Ele era um homem como qualquer um de nós. Isso é o que o faz bonito, completo. Que sendo humano, com todos os problemas e deficiências humanas, soube ser um ser humano melhor. É o que queremos que nossos filhos entendam, aprendam. E que consigam seguir esse exemplo de vida, de ação, de honestidade, de integridade como ser humano.
A imagem dele está por toda parte, mercantilizada em camisetas. Quem as usa sabe quem ele foi?
Algumas pessoas que usam essas camisetas sabem quem ele é e têm consciência. Outras não. Não sei por que usam. Talvez porque papai era muito bonito e as pessoas gostam da imagem. Não posso dizer. Já vi pessoas que não sabem quem ele é e usam sua camiseta. Na Itália, por exemplo, homens da juventude fascista pediram a meu irmão e a mim que assinássemos uma camiseta. E quando nos disseram que eram da juventude fascista, dissemos que eles estavam loucos, que precisavam estudar o Che para ver quem ele era.
Também aconteceu na Itália que dois homens começaram a me olhar muito. Estranhei. Quando perguntei por que me olhavam, me disseram: se tu és real, quer dizer que Che era um homem como nós. Me tocaram. Viram que eu era de carne e osso. Pela primeira vez me senti útil só por ser filha de Che. Sim, tão real como eles, e por isso tão difícil de alcançar. Superar outro ser humano que soube ser melhor que nós. Isso é difícil.
A sra. quase não conviveu como ele.
Muito pouco. Tinha quatro anos e meio quando ele partiu para o Congo. Depois ele regressou a Cuba de forma clandestina. Porque não queria de despedir novamente do povo cubano; já tinha feito isso oficialmente. E, quando voltamos a vê-lo, ele estava transformado numa outra pessoa. Portanto durante muitos anos eu não soube que aquele homem era meu pai. A mim me resta minha mãe, que o amou profundamente e passou esse amor a seus filhos e os seus amigos mais próximos, que sempre nos contavam coisas, mantendo essa imagem que eu admirava. Essa imagem foi crescendo muito. Quando completei 16 anos me perguntei porque eu gostava de meu pai, se não o tinha tido perto de mim quase nunca. Busquei alguns flashes de memória e me dei conta que esse homem que havia amado de verdade. O que tu podes fazer é devolver esse amor, apesar de não estar presente. É o que fazemos.
E você tem alguma lembrança forte dele?
Sim, por exemplo. Acho que foi nos últimos momentos antes da viagem para o Congo. Meu irmão Ernesto havia nascido há apenas um mês. Tenho uma imagem de minha mãe, com meu irmão apoiado sobre seu ombro. Eu estou embaixo olhando a cena. Meu pai está vestido como militar e tocado com uma mão muito grande a cabecinha do bebê. Essa imagem sempre me ficou na retina. Não falei com ninguém, era minha, muito linda. E eu sou mãe também e me ponho a pensar nesse momento, quem sabe de despedida, em quanta preocupação ele poderia estar tendo com esse bebê, se esse bebê, quando crescer, vai entender porque ele não estava. [Chora, tentando conter as lágrimas] Toda uma série de coisas. E esse momento me faz pensar em meu pai com muito amor, com muita força. Porque ele foi um homem capaz de amar com tanta ternura e, ao mesmo tempo, capaz de seguir o seu caminho, de saber que é mais útil noutro lugar. É o melhor exemplo de um verdadeiro homem, de um verdadeiro comunista: de oferecer o melhor da sua vida apesar de si mesmo.
Depois tive outro encontro, quando ele regressou do Congo, já transformado em outro homem. Não sabia que era papai. Essa noite eu caí, bati forte a cabeça. Ele me tomou em seus braços, me protegeu. No fim, eu disse alto: mamãe, acho que esse homem está apaixonada por mim. E deve ter sido algo muito duro para ele, porque não pode me explicar porque me queria de uma maneira muito especial. Mas para mim foi ótimo. Porque quando depois soube que aquele homem era meu pai, apesar de naquele momento não saber quem era, apesar do seu disfarce, eu senti que esse homem me amava de uma maneira muito especial e isso é bonito para qualquer filho.
Essa cena do disfarce está no filme de Steven Sodenbergh. O que achou dos filmes que foram feitos?
O filme com Benício não gostei. Gostei mais do filme de Walter Salles. Não que não goste do ator. Benício fez o maior esforço. Mas a coisa histórica. Na primeira parte, por exemplo, ocultou a parte de papai como formador de homens. Isso não se vê no filme, e talvez seja a parte mais importante de meu pai. Depois, a parte da Bolívia. Fazem toda uma película de guerra. Mas não está o sacrifício dos homens que, como meu pai, largaram tudo para ser útil para outro povo. Isso não se sente no filme. O filme de Walter Salles é muito melhor, muito mais respeitoso, mais real, feito com uma entrega total, eu me identifiquei muito.
Como foi desfilar no Carnaval de Florianópolis?
Levei uma bronca de minha mãe. O Carnaval de Cuba é diferente, é brincadeira. Aqui é uma expressão cultural, tem outra conotação. Depois aprece comigo, num carro alegórico tipo tanque, um homem vestido como meu pai. Isso para minha mãe é um insulto, porque ela respeita muito a sua imagem. Mas eu senti o respeito e a admiração desse jovem por meu pai. Mas minha mãe não gostou.
Como a sra. avalia a manutenção da memória sobre o seu pai?
Muitas coisas faltam. Um das mais importantes é que não há publicações suficientes para os jovens, sobre sua imagem, sua vida. Há muitos livros publicados por terceiros. Mas obras feitas por Che não há para toda a juventude. Esse é um dos objetivos do centro de estudos Che Guevara: fazer esse tipo de publicação.
Trabalhamos com uma editora australiana para levar toda a obra de meu pai aos jovens. Temos doze livros publicados. Há um dedicado aos jovens que se chama Che a partir da memória. É uma compilação de escritos dele desde que ele tinha 16 anos. Tem outro sobre América Latina. Outro sobre economia política, no qual ele faz uma crítica aos manuais de economia da URSS daquela época. Há apontamentos sobre o Congo. Tem discursos, como ele fez em Punta Del Este contra a Aliança para o Progresso. Há o discurso de Argel. Tem o texto sobre o homem e o socialismo em Cuba, que é, para mim, como uma bíblia.
Como está a juventude em Cuba?
Bastante sã. Não temos muito problemas com drogas e Aids. Estuda muito. Há um milhão de estudantes universitários para uma população de 11,5 milhões. Mas é preciso trabalhar todo o tempo. A pressão ideológica contra Cuba é muito forte. Os Estados Unidos criaram a TV José Marti. Há cinco estações de rádio que fazem emissões dos EUA em castelhano. Alguns escutam. Foi o que aconteceu há alguns anos, quando pessoas saíram no Malecón com malas esperando que os viessem buscar. Foi por causa das rádios, que diziam que lanchas iriam buscá-las.
Como a sra. explica isso? As pessoas querem fugir de Cuba?
Isso era no período especial, quando a situação em Cuba era de se arrancar os cabelos, era desesperadora. Então pessoas que não têm os princípios necessários para aguentar a situação pensaram que poderiam viver melhor em outro lugar. Mas se deram conta de que foram manipulados e enganados. Não havia ninguém. E saíram quebrando. E o povo cubano saiu a controlá-los. Não houve um policial cubano. Foi uma coisa espetacular. Chamaram Fidel e Fidel foi. E o povo gritou: viva Fidel. E ele neutralizou a situação. Um ano depois, os jovens fizeram nesse mesmo dia uma marcha espetacular debaixo de uma chuva tropical.
Mas hoje isso poderia acontecer?
Perfeitamente. A última marcha de primeiro de maio foi espetacular, 5.000 jovens fecharam a marcha. E não se vai à marcha de forma obrigada, se faz de coração.
É muito pesado ser filha do Che?
Não. Minha mãe sempre nos ensinou que iríamos receber coisas que não havíamos ganhado. Que teríamos que receber: o nome de meu pai. Mas que deveríamos colocar os pés firmes sobre a terra e deixar passar o que não ganhamos como ser humano. É o que fazemos. Recebemos o nome de papai, mas deixamos passar tudo o que não é para nós. Por isso vivemos muito tranquilos.
A mentalidade de hoje é mais à direita do que era nos anos 60?
Não. Depende de como a esquerda se comporta num momento como este. Se viveres de costas para o teu povo, perdeste tudo. Mas, se tu estás ao lado dos necessitados e segue trabalhando ao lado de teu povo nos momentos mais difíceis, esse povo se dá conta que tu existe, e que tem algo diferente a oferecer. O mundo não tende a pensar como uma direita conservadora. Veja o movimento nas ruas da Espanha, os indignados.
Mas na Espanha a direita ganhou as eleições.
Mas esse movimento nas ruas não se via há muito tempo. E é contra o capital. Sabem bem o que estão exigindo: os bancos não podem seguir ganhando a custa do povo. Isso não é direita. É esquerda, é um despertar da consciência social.
Mas a direita ganhou.
Depende como são as eleições, partidos que levam listas. É um rolo. A suposta democracia nesse sentido se emaranha muito para as eleições. Se não tens capital, não entras nas eleições.
Há democracia em Cuba?
A democracia é o poder do povo. É o que diz a palavra demos: poder do povo. E um Estado de direitos para todos os cidadãos. Isso em Cuba existe sem nenhum tipo de dúvida. O que o povo diz é o que se faz. O povo sempre tem a última palavra.
Como está o caso dos cubanos presos nos EUA?
A mídia nunca fala. Falam dos presos em Cuba, das senhoras de branco, mas nunca falam dos cinco heróis cubanos presos nos EUA. Cuba é um país agredido pelo governo dos EUA, que mantém organizações terroristas de origem cubana no sul da florida. Chegam à costa cubana e metralham. Ferem crianças e idosos. Não dizem nada contra isso. Envenenaram a água de uma escola infantil. A mulher que quis incendiar a telefonia estava sendo paga por eles. Colocaram fogo em um edifício onde havia uma escola infantil. A dengue hemorrágica foi introduzida em Cuba através dessa gente de Miami. As últimas bombas em Havana, quem foi? Um turista salvadorenho pago diretamente por essa gente. Ele está preso em Cuba. Seu telefonema. Está tudo gravado. Nunca uma organização internacional protestou contra as ações terroristas contra Cuba. O governo dos EUA declarou que vai lutar contra o terrorismo em qualquer parte do mundo. Exceto em seu território nacional.
Esses cinco cubanos entraram nessas organizações porque é a única maneira que temos de evitar esses atos. Eles estavam dentro dessas organizações para dar informações dos atos terroristas contra o nosso povo. Foram detectados. Essas organizações terroristas do sul dos EUA enriqueceram com o tráfico de drogas, de armas e de seres humanos. O FBI nos procurou e demos informação de boa fé. E o que fez o FBI? Prendeu os nossos e deixou livres os terroristas. Estão presos há 13 anos. Dois deles nasceram nos EUA. Três eram cubanos com nomes falsos. Por isso podem ser penalizados. Mas a pena é de um a cinco anos de prisão, pelas leis dos EUA.
Há antecedentes. Outros foram condenados a oito anos. O FBI não demonstrou que eles tinham informação que comprometesse a segurança dos EUA. Nenhum pode ser condenado por espionagem, porque não há prova. Não era isso que estavam fazendo. Apesar disso, foram condenados a penas perpétuas. Um deles a duas vezes a pena perpétua! Com toda a mobilização internacional demonstramos que foram cometidas violações tremendas dentro das leis dos EUA. Comprovados agentes foram condenados a 10, 20 anos. E esses, que não tiveram nada comprovado, têm a pena perpétua! Como é possível? Conseguimos um segundo julgamento por causa da pressão internacional. Se os EUA usassem sua própria lei, esses homens seriam colocados em liberdade já. Porque não há lei que sustente essas prisões. E tem que a questão da imparcialidade. Como vais julgar cinco homens cubanos, que tenham se infiltrado nas organizações terroristas em Miami, em Miami? É impossível. Não funcionam as leis nos EUA. Por isso precisamos da solidariedade internacional nesse caso. Para pressioná-los a fazer justiça. Só queremos que os EUA façam justiça e façam valer suas próprias leis.
Com essas reformas, o Estado vai se reduzir em Cuba?
O Estado de Cuba é o povo, o poder do povo. Nos sentimos muito bem representados pelo nosso Estado.