terça-feira, 14 de junho de 2011

De malungo pra malungo...

*Resposta de Tadeu Guerzet à Gustavo Badaró, a respeito das manifestações de 2005 e as de 2011.
 
Acho necessário que uma resposta seja dada ao meu ex-companheiro de DCE e de manifestações Gustavo Ramos Badaró, o Badaró. Sem inocências...
 de malungo pra malungo”
 E é justamente na hora em que os acontecimentos recebem tantos olhares, críticas, comentários, elogios, ambição... que é quando eles, por mais paradoxal que possa parecer, recebem menos atenção!
 
QUEM TE VIU...
 
Conheci Gustavo Badaró antes de entrar na UFES, por volta de 2002.
 
Badaró era próximo do PT, embora não tivesse sua atuação pautada no partido. Nessa época ele já possuía um longo chão percorrido na UFES e já havia acumulado muitas histórias e mitos ao redor de seu nome.
Em 2004 nós montamos uma chapa para as eleições do DCE da UFES. A chapa tinha como integrantes, além de nós, Ruy, Ana Paula, Marcos Vinícius Podestá, Chakal, Grazi, Diego, Java, Vacari, Vinícius Mansur, Carol da PSI e outras figuras. Dois dos membros da comissão eleitoral, que eu me recordo, (de um total de 3) eram Luis Cláudio Kleim e Martinho Freitas Salomão.
A nossa chapa possuía um forte conteúdo contestador da ordem. Nossa linha criticava enfaticamente o governo Lula (pela esquerda) e seu projeto atrasado para a educação. Atuamos juntos nessa gestão de 2004, Badaró era coordenação geral do DCE, eu era diretor de "Movimentos Sociais".
 
Em 2005, mais uma eleição, dessa vez, entretanto, montamos chapas diferentes. Badaró organizou a chapa AUTONOMIA ESTUDANTIL, que tinha um conteúdo autonomista/anarquista. Criticava as organizações partidárias e as entidades formais do movimento estudantil. Eu, do meu lado, participei da chapa PRA TRANSFORMAR O TÉDIO EM MELODIA, que mais uma vez apontava críticas aos governos e o projeto educacional que entrava goela abaixo das universidades federais. Os militantes partidários de nossa chapa faziam parte da ruptura que o PT sofreu nesse ano: Eu, Danilo Bicalho, Ana Paula, Camila Valadão, Samanta, Kelly...
Essa foi uma das eleições mais tumultuadas da história da UFES, com inúmeras ocorrências nas urnas por motivos esdrúxulos. Na apuração foi revelada uma fraude que prejudicou enormemente a chapa PRA TRANSFORMAR O TÉDIO EM MELODIA numa das urnas mais centrais para nós, a do curso de pedagogia.
 
Logo após o processo eleitoral, explodiram as manifestações vitoriosas de 2005 pela redução da passagem. Tanto o grupo “Autonomia Estudantil” quanto o grupo da chapa “Pra Transformar”, estiveram frontalmente envolvidos na organização, mobilização e nas ações de 2005. Por isso me surpreendeu, entre várias outras coisas, que uma das críticas que Gustavo Badaró faça ao atual movimento seja a respeito do fechamento de rua.
 
Outra crítica que Gustavo Badaró faz, é a de que, segundo ele, o movimento não procura o diálogo.
 
Sabem quantas vezes negociamos com o governo em 2005? NENHUMA.
Sabem quantas reivindicações haviam em nossa carta? Se houvesse pelo menos uma carta, haveria uma: Redução da passagem... só... não importando como e nem se seria possível tal reivindicação.
 
Em A Gazeta do dia 07/06/2011, um artigo do professor Roberto Simões reforça que o movimento buscava o diálogo desde abril. E desde abril avisava “Vitória vai parar” e em nenhum momento o governo, que tem se demonstrado falho nas negociações, ainda segundo o professor Roberto Simões, procurou os manifestantes.
 
O movimento de 2005 foi um encontrão! Badaró deve se lembrar que não tínhamos plataforma política e as lideranças das “organizações políticas” e “desorganizações políticas” foram pegas com as calças na mão. Não tínhamos debate e nem argumentação. Nosso principal argumento era o de que seria o segundo aumento do ano, e que aquilo era uma sacanagem!
 
Em 2005 nós fechamos as ruas todos os dias, completamente! Fechamos a rua com o mesmo Badaró que diz hoje que a sociedade fica prejudicada com manifestações. Lógico, a sociedade fica prejudicada com e sem elas, eu completaria! Com um discurso APELATIVO, ALARMISTA E SENSACIONALISTA do tipo “uma criança doente precisa chegar ao hospital”, ele acredita que está revelando um grande segredo das ciências sociais.
 
Voltando mais uma vez à 2005, quando fomos pela primeira vez na terceira ponte, fomos com o objetivo de fechar o acesso dos carros a Vila Velha, como havia sido feito tempos antes em Florianópolis, em uma manifestação. Foi então que um funcionário da Rodosol chamou o comando de organização para uma conversa. Na conversa ele propôs que abríssemos as cancelas, ao invés de fechá-las. A organização precisou fazer uma reunião para se discutir, pois não havia consenso,Parecia que nos queriam "engabelar".
 
Gustavo Badaró foi um dos maiores freqüentadores do carro de som da manifestação, se destacando como uma das diversas lideranças. Sempre com um discurso e uma prática anarquista, libertária, radical. E não estamos falando de um adolescente que estava amadurecendo suas opiniões, mas sim de um militante estudantil provado, com anos e anos de atuação no DCE e nos conselhos durante sua graduação.
 
Depois de 2005, o movimento de reivindicação sobre transporte, através do MPL, principalmente, começou a se aprofundar no debate de mobilidade urbana, tarifa zero e outras questões. Nesse período, Badaró já havia se afastado do protagonismo do movimento.
 
...QUEM TE VÊ
 
Depois de concluir sua graduação, Badaró se filiou ao PSB, partido do governo. Essa informação não desqualifica as críticas de Badaró, o que as desqualificam são algumas mentiras que ele contou, seja deliberadamente ou por falta de informação sobre o que está acontecendo no interior do movimento. Prefiro acreditar que tenha errado por falta de informação! Entretanto, essa informação é importante, pois LOCALIZA o centro gravitacional e o mérito de um texto que criminaliza o movimento de rua e aponta o PSOL, e o Gustavo de Biase, como figura "culpada" de tal "crime". Um texto que chama lideranças de "irresponsáveis" por fecharem rua. A importância dessa informação consiste em que, para pessoas com envolvimento direto no resultado disso tudo, e com muito interesse de que essas manifestações acabem, é conveniente dizer que: “só são irresponsáveis manifestações que fecham ruas, quando é contra o governo de quem escreve a matéria!” Quando é contra o governo de outro, ai vale fazer!
 
Diferentemente dos textos que costumava escrever durante sua graduação, nos tempos de movimento estudantil, recheados de personalidade, radicalismo anarquista e vocabulário anti-partidário, nesse texto, Badaró copia o editorial de A Tribuna e A Gazeta e se apropria dos mesmos argumentos da “A Tribuna” da sexta-feira dia 03. O conteúdo conservador do texto do Badaró está à direita dos jornais de circulação de massa, que estão se retratando desde a última sexta-feira, em que mais de 4.000 pessoas foram às ruas. Badaró e poucos outros, mantiveram o tom criminalizador do movimento e das lideranças.
 
Em seu texto Badaró faz diversas críticas apócrifas ao movimento. Vou enumerá-las:
 
1) “Não existem entidades legitimando”: o DCE da UFES, o grêmio do colégio Elsa Lemos de São Pedro e, a partir de segunda feira, a própria UNE e o grêmio do IFES, aprovando em assembléia a posição que derrotou o Fábio Lúcio, com um massacre da base revoltada com o posicionamento declarado pelo grêmio nos jornais na sexta feira 03/06/2011. A UNE desautorizou a antiga nota (que eu ainda nem li) e redigiu uma nova nota.
 
2) "Nunca quiseram dialogar e nem enviaram carta": De janeiro para cá já produzimos 3 cartas de reivindicações diante das negativas do governo estadual, diferentemente de 2005, movimento em que ele fez parte, que não elaborou nenhuma carta. Elaboramos propostas que foram classificadas como “relevantes” até pela mídia (TV Capixaba e A Gazeta impressa).
 
3) Em quase todo o seu texto, Badaró insiste que  NÃO foi tentado diálogo. Pois bem. De dezembro até hoje, fizemos 3 ou 4 reuniões com o secretário de transportes Fábio Damasceno, a presidente da CETURB Denise Cadete e o secretário da Casa Civil, Cicilioti. Nos reunimos com o Vice Governador duas vezes,protocolamos oficialmente duas cartas de reivindicações que foram negadas, nos reunimos outras 2 vezes depois de quinta feira. Nos reunimos com o presidente da Assembléia Legislativa Rodrigo Chamoun. Em todas as vezes fomos com intenção de ouvir e apresentar propostas... dispostos a ceder e consensuar. MAS NÃO HOUVE NEM UM PASSO DADO PELO GOVERNO... NEM MESMO A REUNIÃO COM O GOVERNADOR FOI ATENDIDA. Todas as negativas do governo estão expressas no jornal A Gazeta do dia 07/06/2011. Não podemos deixar de perguntar que dialogo é esse, Gustavo Ramos Badaró? Essa é a famosa negociação CARACU, em que o governo entra com a cara e os estudantes entram com o resto?
 
O Badaró pode dizer o que quiser, não tem problemas e ninguém vai brigar por isso. Mas a verdade mesmo é essa aí.
 
Não fomos recebidos pelo governador Renato Casagrande. O governador sequer concedeu uma entrevista aos jornais sobre o que está havendo. Estava ocupado recebendo o time do São Mateus, campeão do vergonhoso, corrupto e mentiroso CAMPEONATO CAPIXABA DE FUTEBOL.
 
O segundo momento de suas críticas irresponsáveis, Badaró elege como inimigo o PSOL.
 
Não vou perder muito tempo tentando explicar que Heloísa Helena não está assim tão preocupada em manipular uma manifestações de estudantes em Vitória. Levantarei apenas algumas questões:
Quem tem mais “capital moral” se é que isso existe? Quem merece ter palavra mais considerada? O PSOL ou o Badaró? O PSOL que abre mão de sua viabilidade eleitoral voluntariamente para provar a sociedade quem nem todos, na política, se misturam com os ruins, ou o Badaró que abandonou as teses de Malatesta e Bakunin em troca do reformismo PSBista? O PSOL que não aceita esse código florestal dos madeireiros, não aceitou o Palocci, ou o Badaró do PSB, que se dizia anarquista quando estudava na UFES para atrair bobo para suas chapas de DCE? O PSOL que sempre, em todas as ocasiões, se colocou ao lado de TODAS as manifestações populares tendo ou não líderes, entidades representativas e CNPJs falando em nome de SERES HUMANOS. O PSOL que manteve sempre sua coerência de apoiar manifestações, ou o Badaró, que depois que se filiou ao PSB decidiu ser militante contra passeatas de ruas em Vitória, Egito, França, Líbia, Venezuela e etc?
 
É triste ver que uma figura interessante, que inclusive são importantes para a subjetividade política das universidades federais, joga no lixo toda a sua história por tão pouco. Hoje todas as pessoas que ainda confiavam nele na UFES estão chocadas com tal posicionamento. Posicionamento de defesa governista mesmo depois da chuva de bombas sobre a UFES.
 
E o que mais me deixou estarrecido, foi que: como um sujeito tão esperto como Badaró, que conheci de perto e admirei por muitas qualidades, entre elas, a esperteza e inteligência, confirmou tudo o que denunciávamos ao seu respeito para a UFES em apenas duas paginazinhas de um textozinho chinfrim em que a maior parte foi copiada da matéria de A Tribuna do dia 03/06/2011. Como ele foi trouxa o suficiente para provar para todo mundo que estávamos certos, escrevendo um texto que ninguém dará crédito e que não representa nada além das opiniões de uma pessoa isolada filiada ao partido do governador.
 
Badaró, cá entre nós... Você seguiria a vida muito melhor sem deixar essa mancha na sua história

4 comentários:

  1. Escancarou, Tadeu.

    Parabens pela articulação, te gosto, rapeize.


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  2. Badaró, cá entre nós... Você seguiria a vida muito melhor sem deixar essa mancha na sua história. [2]

    Parabéns pelas considerações, Tadeu! Não é possível que o Badaró com um texto absurdo desses fique sem resposta. Merece muitas mais que o mostrem o papelão que está fazendo.

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  3. Tadeu, também fiquei passado. Quando eu saí do ME o Badaró estava entrando. Sempre tive muitas diferenças com ele, mas também não esperávamos isto. Excelente texto, exceto a parte em que vc ataca (desnecessariamente) o nosso glorioso pitbull do Norte !

    Abraços,

    Raphael G. Furtado

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  4. Cara, eu só posso botar fé em tudo que vc escreveu. Só me resta isso. Foi realmente lamentável ler aquela carta. E mais lamentável foi ver no final quem tinha escrito.

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