domingo, 25 de março de 2012

Roger Waters e a parede, no Brasil.

Arte e Crítica

(Foto de parte do muro de berlim pichada com uma frase da música "mother" do disco The Wall "Mother should i trust the government?" Mãe, eu poderia confiar no governo?)



O que define a importancia de uma banda? A quantidade de discos que ela vendeu? A quantidade de outros artístas que ela influênciou? Ou a capacidade de intervenção, de se negar permanecer em silêncio alheio ao que acontece no mundo ao seu redor, de se posicionar diante dos fatos, de criticar e tomar posição na disputa por outra ordem?

Ser uma das bandas mais bem sucedidas em vendagens e ser uma das bandas que mais influênciou outros artistas no mundo, para este texto, são apenas dois pequenos detalhes de rodapé.

O Pink Floyd nunca se caracterizou como banda do mainstream. Sempre teve uma preocupação em fazer trabalhos mais conceituais. Sua inovação pode ser considerada, inclusive, uma crítica à inércia e a acomodação artística da indústria cultural que sempre se preocupa muito mais em fôrmas para sucessos "água-com-açúcar", em preparar para o próximo verão qual será o novo "nossa, nossa, assim você me mata" que irá emburrecer os ouvidos acostumando-os com a música des-cerebrada e de fácil consumo. 

Sobre este assunto, sempre gosto de usar o (contra-)exemplo do disco "Atom Heart Mother", por ser um dos mais geniais da música. Este disco foi lançado em 1970 quando o mundo se embalava ao som de músicas de 3, 4 minutos com guitarras distorcidas e refrões abundantes e melódicos (que eu também acho muito bons). A primeira faixa deste trabalho é um rock instrumental acompanhado de uma orquestra, sem letra, sem canto e com mais de 23 minutos de duração! Para completar, a capa do disco tem uma vaca (com a bunda virada para frente)! É quase inacreditável como este disco chegou a ser nº1 em vendas no Reino Unido! Fatos como este nos levar a questionar se a rádio realmente exibe o que o povo gosta de ouvir, ou se ela manipula o que o povo vai ser induzido a gostar (e comprar)...

Em 1973 o Pink Floyd lança o disco que vai fazer deles uma dos mais respeitados grupos musicais do mundo o "The Dark Side Of The Moon", que critica a modernidade e as "condições de existência" do homem e da mulher modernos. Pelo título das faixas já percebemos algumas dicas: "Time" e "Money" são as duas mais famosas deste disco... Não por acaso.

Em 1979 o grupo já está consagrado como uma banda de alta qualidade artística, como grupo crítico e experimental. Neste ano, no processo de separação de seus membros, lançam o disco "The Wall", que em 1982 se tornou o filme "The Wall" com direção de Alan Parker. A conexão com a guerra fria e "o muro" de Berlim é evidente, principalmente vindo do contexto de seu album anterior, o "ANIMALS" que é uma adaptação músical (embora com algumas imprecisões) da obra "Revolução dos Bichos" de George Orwel, que critica frontalmente o totalitarismo.

O The Wall é um disco conceitual que aborda as opressões que sofremos e como elas se tornam, cada uma delas, "um tijolo a mais no muro" (Another brick in the wall) do isolamento, da submissão e de nossas crises (one of my turns).

Esse disco obteve um sucesso tremendo e com isso elevou a crítica ao modelo de educação bancária produzida, extremamente avançada para a época, no refrão mais famoso do planeta até hoje "Hey teachers leave the kids alone!" é um dos trechos mais cantados, repetidos, conhecidos e reproduzidos!

"Nós não precisamos de nenhuma educação
Nós não precisamos de nenhum controle de pensamento
Nenhum humor negro na sala de aula
Professores, deixem essas crianças em paz...
Ei, professores! Deixem essas crianças em paz!
Em suma, é apenas um outro tijolo no muro
No fim, você é apenas um outro tijolo no muro..."


A volta do muro!!


Roger Waters, idealizador principal do "The Wall", jamais deixou de se engajar nas questões que surgiram no mundo após o fim do Pink Floyd e da Guerra Fria. Muitas coisas motivaram a volta dessa turnê aos palcos e nas palavras dele, "Esta nova produção de The Wall é uma tentativa de estabelecer algumas comparações, para iluminar nossa situação atual, e é dedicado a todos os inocentes perdidos nos anos seguintes". Uma dessas comparações pós-1979 se refere ao velho Muro de Berlim e o muro que separa Jerusalem da Cisjordânia, palestinos e o Estado de Israel. Waters ficou chocado ao se deparar com tal muro em uma de suas viagens: "(Esta barreira) é uma obscenidade para outras pessoas no mundo. Aqui e talvez em outros lugares em que vivem, os judeus podem aceitá-la. Mas as pessoas no mundo todo veem o muro como uma estranha forma de viver" (Na foto está Roger Waters "pichando" o muro da vergonha em Israel com uma frase de "Another Brick In The Wall" - We don´t need no, thought control - "Não precisamos de controle de pensamento")

Outras comparações sobre a turva situação atual as quais ele se refere, são os governos autoritários, as guerras comerciais, o nacionalismo, sexismo, rascismo, intolerância religiosa e etc.
Quando a turnê passou pelo Chile, recentemente, Roger Waters se encontrou com o presidente Sebastian Piñera, e o criticou pela repressão às manifestações estudantis do ano passado, deixando o presidente em uma baita "saia justa". Ao responder que a maioria dos feridos nas manifestações eram policiais (!), Roger Waters disse que o presidente era mentiroso.
Esta semana, esta histórica turnê passará pelo Brasil! Esperamos para ver o que marcará a visita de Roger Waters a nosso país!
"Eu acredito que nós temos pelo menos uma chance de aspirar a algo melhor do que o cão que come cão do abate ritual que é a nossa resposta atual para o nosso medo institucionalizado do outro. Eu sinto que é minha responsabilidade como artísta expressar esse meu otimismo." Roger Waters - 2010


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