Carta aberta de repúdio ao machismo e à violência contra mulheres
As mulheres e os homens integrantes do Fórum da Juventude Negra do Espírito Santo manifestam publicamente seu repúdio às atitudes machistas e violentas praticadas por um de seus membros contra uma de nossas companheiras, Karina de Moura Oliveira.
Manifestamos ainda nosso apoio às posturas da companheira que, além da denúncia política, fez todas as denúncias criminais cabíveis ao caso – violência física, moral e psicológica que se enquadra na Lei 11.340/2006 (Lei Maria da Penha).
Considerando o direito de ser ouvido de todo e qualquer acusado, abrimos espaço no Fórum para que o companheiro pudesse responder às acusações, bem como fazer suas colocações a cerca do fato. Em reunião, ocorrida no dia 5 de fevereiro, o companheiro confirmou todo o relato da vítima e se comprometeu a assumir as responsabilidades de seus atos nos processos criminais. A questão foi debatida e o Coletivo de Mulheres Aqualtune apresentou as propostas de encaminhamento, que foram: a) Ele fica suspenso de falar publicamente em nome do Fórum por compreendermos que é uma incoerência para o Fejunes, visto que lutamos contra todo e qualquer tipo de violência e não podemos permitir que um agressor fale em nosso nome sobre respeito aos direitos humanos e demais bandeiras que defendemos; b) Uma comissão do Fejunes fica responsável por acompanhar o tratamento psicoterapêutico que ele se comprometeu a fazer, a fim de contribuir no processo de superação de suas limitações machistas, práticas agressivas e contradições internas; c) O Fejunes inclui em seu planejamento de 2011 uma formação política cujo tema será “Violência contra a mulher”, na perspectiva de aprofundarmos nossa compreensão sobre o tema e sensibilizar os fejunianos para a pauta, a fim de que determinados equívocos, tanto teóricos quanto práticos, possam ser superados individual e coletivamente; d) O Coletivo de Mulheres Aqualtune fica responsável por rediscutir o tema em seus encontros ordinários, no sentido de fortalecer as participantes deste coletivo para que cada uma delas tenha condições de perceber a agressão, por mais sutil que ela possa parecer, com o intuito de não tolerar nenhum tipo de violência.
Durante o debate, o integrante em questão, não concordando com os encaminhamentos, se retirou da reunião comunicando também sua saída deste Fórum. Na ocasião, lamentamos mais uma postura equivocada do companheiro quando este preferiu se retirar do movimento, esquivando-se das deliberações do Fejunes.
Ressaltamos que, durante esses cinco meses de intensos debates sobre a questão, todas as deliberações deste Fórum tiveram como pano de fundo a preocupação em não expulsar o companheiro, mas sim trabalhar para que ele compreenda a amplitude de seus erros, que se constituem crimes; reconheça e supere seu machismo. Acreditamos que mantê-lo no movimento, participando dos debates sobre violência contra a mulher e feminismo, seria uma forma de contribuir no processo de autocrítica do companheiro, bem como impulsionar uma mudança efetiva de suas posturas.
Baseados nessa leitura, recebemos o pedido apresentado pelo companheiro de reintegração ao movimento e nos colocamos abertos ao diálogo. Entretanto, uma série de equívocos continuaram sendo cometidos pelo companheiro, que vem tratando a questão com deboche numa tentativa de escamotear seus erros e desviar o foco do debate. Em reuniões posteriores, ele passou a negar os fatos e vem se referindo publicamente à vítima no sentido de ridicularizá-la e desqualificar suas posturas, como se toda a violência denunciada pela companheira não passasse de calúnia e vingança. Além disso, vem reincidindo em práticas agressivas, coagindo e pressionando as demais companheiras deste Fórum, inclusive as testemunhas; desrespeitando a medida protetiva; além de questionar e criticar as posturas, sobretudo, do Coletivo de Mulheres, colocando em xeque, inclusive, o apoio dado às denúncias criminais feitas pela companheira, alegando que “a Justiça burguesa branca não é espaço para resolução de problemas pessoais como este”. Acreditamos que essas posturas equivocadas (dentre outras) demonstram o quanto o companheiro ainda não se dispôs a refletir seriamente sobre o fato.
Considerando tudo isso, o Coletivo de Mulheres Aqualtune/ES e o Fórum da Juventude Negra do Espírito Santo, após longos e desgastantes debates, torna público seu posicionamento, enegrecendo que o pedido de reintegração ao Fejunes foi negado e que o companheiro foi efetivamente desligado deste Fórum.
Sabemos que as relações pessoais entre mulheres e homens são a materialização do patriarcado, uma estrutura historicamente desigual de opressão, que é, inclusive, anterior ao racismo e ao próprio capitalismo. Sabemos também que questionar e redesenhar essas relações sociais, construídas historicamente para permanecerem no âmbito privado, nos exige uma reflexão constante e sobretudo uma práxis diferenciada. Nesse sentido, se a nossa luta é por uma sociedade livre de toda e qualquer exploração, bem como livre de todas as formas de opressão, compreendemos que começar a construir, cotidianamente, dentro de nossas organizações, as novas formas de relações sociais, é um passo essencial para superar estes problemas. Assim, compreendemos que são as situações concretas e, fundamentalmente, os nossos posicionamentos frente a elas que podem fazer avançar a luta contra essa forma de opressão.
Esperamos que o companheiro reveja suas atitudes a partir de uma intensa reflexão de suas posturas machistas e violentas, e compreenda que a autocrítica é o primeiro passo necessário para superação de tais práticas.
Finalizamos reafirmando nosso compromisso de lutar contra toda e qualquer forma de extermínio, violência e opressão.
Por um mundo sem racismo, sem machismo, sem violência, sem opressões!
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