terça-feira, 10 de janeiro de 2012

A luta pelo transporte no ES e o papel do MCA!

* Tadeu Guerzet - Coordenação Nacional do MTL

A luta pela redução dos preços nas tarifas do transporte público, contra o pedágio da terceira ponte, pelo fim dos acordos e da concessão das empresas de transporte e o passe-livre, a melhoria nas condições do serviço, das estradas... têm sido bandeiras capazes de mobilizar setores importantes da nossa sociedade que até então não eram atingidos na disputa de consciência pelo movimento social crítico. Isso responde a idéia de que jovem só se interessa por festa, "cultura" no aspecto mercadológico do termo, esporte e lazer. Jovem se interessa por política e luta por direitos! O movimento MCA tem sido uma ferramenta fundamental para a esquerda capixaba. Tem mobilizado, formulado, atraído e formado novos quadros (bem prematuramente, alguns deles), tem negociado com o governo e tem ganhado legitimidade na sociedade. Eu, por mim, tenho me convencido cada vez mais de que o MCA é movimento mais importante surgido no ES nos ultimo 10 anos ou mais pelo menos!!!

O que conhecemos como MCA, ou , Movimento Contra os Aumentos, surgiu ninguém sabe precisamente como, de onde, quem deu o nome. Ou seja, seu surgimento foi natural, não espontâneo. Foi resultado de uma experiência coletiva que vivemos em 2011. Da necessidade de superar o MPL, dando respostas a questões apontadas num dado momento, superar não o substituindo, ou negando. O MPL é uma das molas mais vitais do MCA!
O MCA tem dado exemplo de unidade para toda a esquerda. Um movimento cuja faixa etária prevalecente seja 20 anos, raríssimos com mais de 30. Falando de grupos ou partidos que participam organizadamente, aglutinam-se anarquistas, trotskistas, socialistas, reformistas e até alguns ainda mais moderados. Não existem blocamentos nas assembléias e é comum as pessoas se comportando de maneira incoerente com suas organizações, votando separadamente, como se o MCA fosse sim um movimento orgânico, onde todos se enxergassem como parte integrante!

Mais um resgate

Talvez o momento mais drástico da luta contra os aumentos tenha se dado em 2005, quando o movimento conseguiu fazer a passagem abaixar pela última vez. Daí, mudou-se o paradigma do governo e do movimento. Pela primeira vez a terceira ponte foi aberta! Passeatas sem estrutura, cotidianas, diariamente e incansáveis, enfrentamento com a polícia. Coisas foram resurgindo. Inclusive o próprio MPL!

Em 2011 outra mudança. O movimento foi capaz de se organizar num movimento único. Surge o MCA com uma capacidade que eu jamais tinha visto de mobilizar estudantes independentes. A bandeira "passe-livre" é dificil de ser compreendida enquanto palavra de ordem, pois a bandeira não explica o "modus operandi" do sistema novo proposto. Após muitos debates, fomos convencidos de que precisavamos de um programa mínimo capaz de mobilizar mais, mais amplo, que ganhasse mais setores, mesmo os não convencidos pelo passe-livre. COontra os aumentos passou a ser a principal palavra de ordem!

Formulações

Os debates feitos incansavelmente respeitam as vezes mais de 50 inscrições, onde raríssimas vezes alguém, mesmo as consideradas "lideranças", são capazes de falar mais de 2 vezes no mesmo ponto de pauta! As formulações avançam no sentido de funcionamento do sistema, a crítica ao modelo transcol, a crítica à relação estado-privado. A crítica extrapola as ruas e se amplia à sociedade também! O que é um direito?

Podemos dizer que o MCA é contra qualquer aumento negativo que aconteça na sociedade, portanto... Aumento não só de preços, mas de violência, repressão, criminalização de movimentos e militantes. Temos um programa máximo! O fim do sistema de transporte. Como? Sendo substituido por um modelo de mobilidade direta, sem a figura gerencial privada, portanto, anti-capitalista. De que forma? A partir de uma conferência estadual (e nacional) de mobilidade urbana onde a sociedade formule democraticamente a partir de suas demandas. Temos um programa mínimo! Nossa pauta de reivindicações transitórias!

Mobilização

Somando a quantidade de pessoas que o MCA fez ir às ruas todos os dias em que saiu em protesto, chegaríamos ao incontável. Os momentos mais fortes foram nos dias 02, 03 e 06 de junho. No dia 02, começando com cerca de 30 de manhã no centro, passando para 600 a tarde na UFES e a noite na Av. Vitória. No dia 03 que foi a noite dos 4, 5, 6, 7 mil, e cada voz narra com um entusiásmo diferente, até agora 7 mil foi o máximo que eu ouvi. Foi um dia em que o MCA surpreendeu a sociedade capixaba... mesmo os mais pessimistas. A segunda feira após isso, as vezes é esquecida embora tenha sido muito importante, na parte da manhã quem antes tinha colocado seus currais de movimento estudantil contra essa torrente, colocaram dessa vez o rabo entre as pernas e foram atropelado por suas bases para se juntar ao que acontecia na cidade! Pois enquanto esses "dirigentes" acompanharam pela televisão o dia 03, suas bases estavam lá! Com o povo conhecendo de verdade esse movimento de quem seus "pretensos líderes" chamavam "ser do PSOL" ou de "anarquistas eleitoreiros"! Foi assim que 300 se somaram a 300 e cerca de 600 estudantes tomaram as ruas do centro de Vitória após a saída da aula do IFES.

Agora é hora de tomar o ES!!!

Ontem (09-01-2012) começamos na terceira ponte. Existe, concomitantemente, um movimento se formando em Colatina, que precisa ser reconhecido PELO e COMO MCA. Precisamos acompanhar e dar suporte. Essa manhã, em aracruz, indigenas, sindicalistas e movimentos sociais, entre eles, o MTL de Barra do Riacho, fecharam 5 pontos do município de Aracruz, inclusive estradas estaduais. Estão reivindicando mobilidade, melhoria nas condições das pistas e duplicação da ES 010 e 257, redução do preço das passagens de ônibus e etc.

Temos potencial para espalhar o MCA nesses centros urbanos que, exatamente por serem centros e urbanos, vivem com certeza os problemas de mobilidade urbana! Aracruz, Colatina, Cachoeiro de Itapemirim, São Mateus e Linhares! Esse momento acontecerá e será tão natural quanto a própria formação do MCA em Vitória! Respeitando a dialética mais simples do movimento da sociedade, sua reprodução e suas expressões, ou seja, as necessidades materiais de homens e mulheres que fazem sua história!

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